15º Livro Profético - Zacarias


Data: 521 a 485 a.C
Autor: Zacarias ( Zc 1:1)
Local: Jerusalém
Contemporâneos: Ester, Esdras Neemias
Capitulos: 14
Versículos: 211

“Estas são as coisas que deveis fazer: Falem a verdade cada um com o seu próximo; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas. E nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu próximo, nem ameis o juramento falso; porque todas estas são coisas que eu odeio, diz o Senhor” (Zc 8:16-17)

1 – Introdução

O nome Zacarias é comum no Velho Testamento, e vários homens receberam esse nome naquela época. No caso do profeta o nome é muito apropriado, pois significa “Javé Lembra”, pois as mensagens que ele anunciou entre 520 e 518 AC diziam que o povo ainda era escolhido por Deus após terem voltado do exílio.
O livro mostra que a salvação está ao alcance de todos “Se andares nos meus caminhos e observares os meus preceitos, também tu julgarás a minha casa e guardarás os meus átrios e te darei livre acesso entre esses que aqui se encontram” (Zc 3:7) Contudo, é importante ressaltar que nem todas as pessoas serão salvas (teoria universalista), isso porque a salvação é um plano do Senhor para seu povo, e para isso é preciso estar na presença do Senhor, acreditar Nele. A salvação não está ligada a escolhas políticas ou elitistas, por exemplo, ou algo que fosse simplesmente um regimento criado por mãos humanas, leis humanas.
O profeta que viveu no mesmo tempo de Ageu, e um exemplo da influência política que foi superada pela vontade soberana do Senhor foram a liberação de Judá e de Jerusalém de seus inimigos políticos. Esse acontecimento fortaleceu a pregação de Zacarias, que constantemente relembrava o povo que o Senhor é soberano sobre toda a terra, mesmo que as circunstâncias digam que não. Outra questão que o profeta aborda com coragem, é a passagem onde ele alerta o povo sobre falsos profetas e a desaprovação do Senhor por pastores que abandonam seu rebanho “Ai do Pastor que abandona o seu rebanho” (Zc 11:17).

2 - Quem foi Zacarias

O autor é identificado em 1.1 como Zacarias, filho de Berequias, filho de Ido. Seu nome significa “Jeová se lembra”. Assim como Jeremias e Ezequiel, Zacarias não era apenas profeta (1.1), mas também sacerdote. Nasceu na Babilônia e estava entre os que voltaram a Judá em 538 a.C. sob a liderança de Zorobabel e Josué. Ido, avô de Zacarias, também é mencionado entre os que voltaram (Ne 12.4).
Esdras identifica Zacarias como filho de Ido (5.1; 6.14). Neste caso a palavra “filho” foi usada para designar Zacarias como descendente de Ido. A freqüência com que o nome “Zacarias” aparece no Antigo Testamento é muito grande, 32 indivíduos possuem esse nome, isso causa confusão. Por exemplo, Zacarias, filho de Berequias não deve ser confundido com Zacarias, filho de Jeberequias (Is 8.2).
Segundo Neemias, o avô de Zacarias, Ido, retornou do cativeiro babilônico com Zorobabel e Josué (Ne 12.4). Em outra passagem, Neemias coloca Zacarias no topo da família sacerdotal de Ido (Ne 12.16). Isso comprova que Zacarias era membro da tribo de Levi e ministrou em Jerusalém como sacerdote e profeta.
 Ageu e Zacarias foram profetas pré-exílicos complementares. Zacarias era o mais novo e começou a profetizar cerca de dois meses depois do breve ministério de Ageu. Enquanto Ageu chamou o povo para construir o templo de Deus, Zacarias convocou a comunidade ao arrependimento e à renovação espiritual, sofrendo ainda as amargas conseqüências do Exílio na Babilônia, onde o povo se sente desencorajado e tem dúvidas sobre a presença de Deus em seu meio.
Sua tarefa era preparar o povo para a adoração e o serviço adequado no templo. 
Ele é um dos profetas mais messiânicos  do AT, dado referências distintas e comprovadas sobre a vinda do Messias.

3 - Contexto Histórico

Quando Zacarias escreve suas profecias, Judá ainda é um remanescente, Jerusalém continua longe de ser restaurada, e as nações gentias ao redor estão descansadas (1.14-16). Zacarias era um profeta jovem que permaneceu ao lado do idoso Ageu, dando ânimo aos filhos de Israel para construírem o templo e advertindo-os a não decepcionar Deus, como seus pais haviam feito no passado.
Descreveu o amor de Deus para com seu povo, reavivando-lhes a esperança, pintando em cores vivas o tempo de perpétua benção que viria a Israel no futuro distante.
Os judeus, outrora nação poderosa como Deus tinha planejado, eram agora um lastimável e insignificante remanescente, habitando na terra prometida apenas por cortesia de um dominador estrangeiro, já que mesmo estando em Jerusalém, continuavam escravos dos persas.
Tanto Ageu como Zacarias procuravam dizer ao povo que isso não seria sempre assim. Um dia, o Messias chegaria, e o povo escolhido de Deus atingiria o poder novamente.
O contexto da profecia de Zacarias, foi durante o reinado de Dario I, rei da Pérsia (521-486 a.C.). Apesar do retorno dos judeus do cativeiro babilônico, havia poucas constatações do programa de restauração da aliança que Javé prometera a Jerusalém (Jr 30 – 33 e Ez 36 – 39).
Na verdade, apenas uma pequena porcentagem dos exilados voltou para Judá, e os muros da cidade continuavam em ruínas, o templo de Deus ainda era um monte de entulho (sua restauração deu-se em 516 a.C) e as nações vizinhas continuavam a atormentar os líderes de Jerusalém e a se opor aos esforços tímidos de melhorar a situação desanimadora que se encontrava a maioria dos judeus.
Em resposta a toda essa angústia, Deus levantou duas vozes proféticas para iniciar o programa de reconstrução física e de renovação espiritual de Jerusalém. Ageu foi chamado para exortar e desafiar a comunidade a reconstruir o templo. Profetizou por apenas quatro meses no ano de 521 a.C.. No entanto o povo atendeu sua mensagem e deu início a obra (Ag 2.12-15). Zacarias complementou a mensagem de Ageu no intuito de convocar o povo para o reavivamento espiritual (1.3-6; 7.8-14).
Seu ministério começou apenas dois meses após ao de Ageu, e sua última mensagem datada foi pronunciada em 485 a.C. Portanto, o ministério de Zacarias em Jerusalém durou tempo. A referência a Ageu e Zacarias, em Esdras 5.2, sugere seu apoio e incentivo contínuos até o templo estar completo e dedicado à adoração de Javé com a celebração da Páscoa em 515 a.C, (Ed 6.13-22).


4 - A Teologia do Livro

O ensino teológico desse livro está relacionado com seus temas messiânicos, bem como apocalípticos e escatológicos.
Tratando do Messias, Zacarias predisse a sua vinda em humildade (6.12), falou de sua humanidade (13.7), sua rejeição e a traição contra ele em troca de 30 moedas de prata (11.10-13), sua morte (13.7), seu sacerdócio (6.13), sua condição de rei (6.13; 9.9; 14.9,16), sua vinda em glória (14.4), e a paz e a prosperidade perpétuas por ele estabelecidas (3.10; 9.10-12).
Esses textos messiânicos dão mais relevância as palavras de Jesus registradas em Lucas 24.25-27, 44.
Na tônica apocalíptica e escatológica do livro, Zacarias predisse o cerco de Jerusalém (12.1-3; 14.1-2), a vitoria inicial dos inimigos de Judá (14.2), a defesa de Jerusalém pelo Senhor (14.4,5), o julgamento das nações (12.9; 14.3), as mudanças topográficas em Judá (14.4,5) a celebração da Festa das Cabanas na era messiânica (14. 16-19) e a santidade final de Jerusalém e de seus habitantes (14.20,21).
Profecias sobre Jesus Cristo e a era messiânica são abundantes em Zacarias. Desde a promessa de que o Messias viria habitar em nosso meio (Zc 2:10-12, Mt 1:23), ao simbolismo do Renovo e da Pedra (Zc 3:8-9, 6:12-13, Is 11:1; Lc 20,17-18), à promessa de Sua Segunda Vinda, onde aqueles que o traspassaram iriam olhar para Ele e lamentar (Zc 12:10, Jo 19:33-37), Cristo é o tema do livro de Zacarias do início ao fim.
Jesus é o Salvador de Israel, uma fonte cujo sangue cobre os pecados de todos os que vêm a Ele para a salvação (Zc 13:1; 1 Jo 1:7).


5 – Conteúdo e Estrutura do Livro

O livro divide-se em duas partes principais:

·         A primeira inclui o versículo introdutório e o chamado ao arrependimento (1.1-6), as sete visões noturnas (1.7 – 6.15) e os dois oráculos relativos ao jejum (7.8).
·         A segunda parte consiste em oráculos escatológicos, subdivididos em duas seções: a palavra do Senhor a respeito de Hadraque (9 - 11) e de Israel (12 – 14).

O livro de Zacarias tem um total de quatorze capítulos. Ele anunciava ao povo que Deus tudo vê, tudo sabe, a qualquer tempo. Suas afirmações ensinam que é Ele quem determina o que será feito ou não, a vida de cada um - isso não exclui a liberdade de opção das pessoas, inclusive há relatos de pessoas que ainda com todo cuidado do Senhor se rebelaram - "Farei passar a terceira parte pelo fogo, e a purificarei como se purifica a prata, e a provarei como se prova o ouro; ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: é meu povo, e ela dirá: O Senhor é meu Deus" (Zc 13:9).
O autor olha para o futuro do povo de Deus e anuncia também o aparecimento do Messias com três características: rei (9:9-10), bom pastor (11:4-17 e 13:7-9) e “transpassado” (12:9-14).
Ao ler esta segunda parte, é impossível não lembrar Jesus entrando em Jerusalém montado num jumentinho (rei - messias), ou quando afirma: “Eu sou o bom pastor”; ou ainda sofrendo a paixão e morte na cruz.

5.1 - As Visões

1.    OS CAVALOS (1.7-17)
Velozes e incansáveis mensageiros. Desse modo Deus ensina que ele preside os acontecimentos no mundo. Não há indícios da salvação para o povo de Deus nem de punição para os opressores. Tudo está em paz. Deus tem ciúmes de Sião e sente-se profundamente indignado contra os inimigos de seu povo, portanto, volta-se para Jerusalém em misericórdia, promete edificar a sua cidade, e a sua casa, e dar grande prosperidade a sua terra.

2.    OS QUATRO CHIFRES (1.18-21)
Os quatro chifres representam os quatro povos que devastaram Judá, cuja destruição já está decretada.

3.    O HOMEM COM A CORDA DE MEDIR (2.1-13)
Essa visão é uma promessa de que haverá plena restauração e benção para o povo da aliança, assim como para o templo de Jerusalém. A cidade não será medida, como geralmente são as cidades, pela extensão dos muros; porque ela desfrutará ilimitada prosperidade sem muros que a atrapalhem. Não lhe faltará segurança. Deus será para ela um muro de fogo para sua defesa.

4.    O SACERDOTE (3.1-10)
O sacerdócio, ainda que humano e profanado, contudo, como um tição tirado do fogo, o Senhor purificou , mandou que lhe tirassem os hábitos sujos e que lhe dessem outros limpos. Sob promessa de obediência, o Senhor promete a continuação de suas bênçãos. Torna-se patente que os sacerdotes são tipos do Messias.

5.    O CANDELABRO (cap. 4)
O Senhor encoraja os judeus a reedificarem o templo, sua casa, ao serem lembrados dos recursos divinos que estão à disposição dos filhos de Deus. A luz do candelabro no Tabernáculo representa o esplendor da glória do Senhor na consagração e no serviço santo do povo de Deus, obra que só é possível realizar a contento mediante o poder do Espírito de Deus (vs. 6 e 12). Zorobabel e Josué no cargo de mediadores sacerdotais terão responsabilidade de pastorear e ensinar o povo a usar essa capacitação espiritual (vs. 11-14).

6.    O LIVRO QUE VOAVA (5.1-4)
A sexta visão de Zacarias afirma que os que violam a Lei, acabam condenados pela própria Lei por eles violada.

7.    A MULHER NO CESTO (5.5-11)
Na sétima visão os malignos e pecadores flagrantes e teimosos no erro serão retirados do país, assim como todo o sistema iníquo gerador e mantenedor de agentes do mal de igual modo serão transferidos para um lugar mais apropriado a fim de que possam refletir sobre seus delitos e haja genuíno arrependimento.

8.    OS CARROS DE GUERRA (6.1-8)
Essa visão estabelece uma correspondência com a primeira visão (1.7-17), ainda que ocorram diferenças nos pormenores, como a ordem dos cavalos nas respectivas cores. Assim como na primeira profecia, Deus é descrito como aquele que controla todos os acontecimentos da história e domina sobre os fatos que ocorrem e ocorrerão sobre todo o Israel. É importante notar que a quarta e quinta visões dizem respeito ao sumo sacerdote e ao grande governador civil da linhagem de Davi, Zorobabel.



6 - Outros Zacarias na Bíblia

Como dissemos, há pelo menos 32 personagens bíblicos designados como Zacarias na Bíblia. A maioria deles aparece apenas uma ou duas vezes na narrativa bíblica.

·         Um chefe da tribo de Rúbem que viveu em aproximadamente em 740 a.C. (1 Cr 5:6,7).
·         Filho de Meselemias, guarda da porta ao norte do Tabernáculo (1 Cr 9:21; 26:2,14).
·         O primeiro colonizador israelita de Gibeão (1 Cr 9:35,37), também citado como “Zequer” em 1 Crônicas 8:31.
·         Um levita que tocou quando a Arca da Aliança foi trazida a Jerusalém (1 Cr 15:14.18,20; 16:5).
·         Um príncipe de Judá enviado pelo rei Josafá para ensinar a Lei ao povo judeu (2 Cr 17:7).
·         Um levita da família de Asafe que foi atuante, juntamente com o rei Ezequias, na purificação do Templo (2 Cr 29:13).
·         Também houve outro Zacarias da casa de Asafe que viveu na época do reinado de Josafá (2 Cr 20:14).
·         Um dos últimos reis do reino do norte, Israel, filho de Jeroboão II, que reinou em 753 a.C. (2 Rs 14:29). Ele reinou apenas seis meses e foi assassinado por Salum, terminando assim a dinastia de Jeú (2 Rs 15:8-12).
·         Provavelmente um sacerdote no reino do rei Josias (2 Cr 35:8).
·         Um dos homens de destaque que foram enviados por Esdras para buscarem levitas e pessoas que desempenhavam serviços no Templo para retornarem a Jerusalém (Ed 8:16).
·         Um profeta que viveu durante o reinado do rei Uzias. Enquanto o rei seguiu os seus conselhos, houve prosperidade (2 Cr 26:5).

Existem ainda outros Zacarias na narrativa bíblica do Antigo Testamento, de maneira que é até difícil conseguir distinguir quando algumas citações se referem a certo Zacarias ou a outra pessoa com o mesmo nome. Um exemplo disto são as referências sobre Zacarias que aparecem nos livros de Esdras e Neemias.
Para finalizar, um personagem com este nome que certamente merece destaque é o Zacarias mencionado em 2 Crônicas 24:20-22. Esse Zacarias foi filho do sumo sacerdote Joiada durante o reinado do rei Joás, em Judá.
Naqueles tempos, Judá retornou à idolatria, e Zacarias, movido pelo Espírito de Deus, repreendeu severamente a nação por conta daquela conduta pecaminosa. A denúncia de Zacarias incomodou os nobres de Judá que, juntamente com o rei, planejaram apedrejá-lo até a morte no átrio do Templo.
Muito provavelmente esse é o Zacarias citado por Jesus em Mateus 23:35 e Lucas 11:51. Na verdade, a identificação desses Zacarias oferece algumas dificuldades. O problema é que o Zacarias, filho de Baraquias, é o profeta Zacarias que estudamos hoje, e se caso o profeta tivesse sofrido tal martírio, provavelmente haveria alguma referência sobre isto nos livros de Esdras, Neemias ou Malaquias.
A tradição judaica afirma que o profeta Zacarias morreu de causas naturais na Judéia, com idade bastante avançada, e foi sepultado perto do tumulo de Ageu.

Em Lucas lemos o Senhor dizendo que “desde o sangue de Abel, até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração” (Lc 11:51).
Já em Crônicas lemos que, prestes a morrer, Zacarias disse: “O Senhor o verá, e o requererá” (2 Cr 24:22). Uma informação importante é que o livro de 2 Crônicas é o último livro da Bíblia hebraica. Assim, a expressão “de Abel a Zacarias” poderia ser uma expressão hebraica equivalente a nossa “de Gênesis a Apocalipse”.



7 - Conclusão

Deus deseja adoração sincera e vida moral de nós hoje. O exemplo de Zacarias de romper com preconceitos nacionais nos lembra que devemos alcançar todas as áreas da nossa sociedade. Devemos estender o convite de Deus de salvação às pessoas de todas as origens nacionais, línguas, raças e culturas. Elas precisam saber que a salvação está disponível apenas através do sangue derramado de Jesus Cristo na cruz, o qual morreu em nosso lugar para expiar o pecado.
Entretanto, se rejeitarmos esse sacrifício, não há outro sacrifício pelo qual possamos ser reconciliados com Deus. Não há outro nome debaixo do céu pelo qual importa que sejamos salvos (Atos 4:12).
Portanto, não há tempo a perder, hoje é o dia da salvação (2 Coríntios 6:2).


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