3º Livro Histórico - Rute

Autor: Anônimo (A tradição judaica atribui a Samuel a escrita deste livro)

Data: Período entre 1268 a 1266 a.C

Local: Moabe e Belém

Palavra-Chave: Resgate

 

“Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus!” (Rute 1:16 b)

 

1 – Introdução

 

O livro de Rute relata a história de uma família, com ênfase em duas mulheres, da época dos juízes. A história nos lembra de que, mesmo nos períodos mais tristes da história, Deus não deixa de agir a favor dos fiéis. Apesar de toda a maldade em Israel no período dos juízes, ainda houve pessoas boas que demonstravam o amor para com o próximo.

Elimeleque, um homem da tribo de Judá, levou a sua família para morar em Moabe por causa das condições precárias na sua própria terra. Quando Elimeleque morreu, sua viúva, Noemi, ficou com seus dois filhos naquela terra estranha. Seus filhos se casaram com mulheres moabitas, mas, passado um tempo, a situação da família se complicou mais ainda com a morte dos filhos de Noemi. Ela decidiu voltar para sua terra onde esperava achar o apoio de parentes.

Uma das noras, Rute, insistiu em voltar com ela, afirmando sua lealdade à sogra e, mais importante, ao Deus que ela servia.

Rute conta uma história linda e cheia de significado, além de oferecer informações históricas interessantes, apresenta ricas lições sobre o verdadeiro amor.

2 – Contexto Histórico

 

A tradição judaica atribui a Samuel a escrita deste livro. O fato de que o relato conclui com a genealogia de Davi sugere que o escritor estava a par do propósito de Deus e se ajusta a Samuel, pois foi ele quem ungiu a Davi para ser rei. Por isso, teria sido também apropriado que Samuel fizesse um registro dos ancestrais de Davi (I Samuel 16:1, 13).

A história narrada no livro de Rute se passa na época dos juízes, que, como estudamos anteriormente, foi uma época de apostasia e descaso com Deus e Sua aliança, e apresenta o caminho oposto do livro de juízes, pois mostra a lealdade de uma moça moabita para com Noemi, sua sogra israelita, e seu Deus.

Os moabitas eram descendentes de Ló, sobrinho de Abraão (Gn. 19:37). Eles ocupavam o território a leste do Mar Morto, à 96 Km aproximadamente, de Belém da Judéia, e na época da peregrinação dos hebreus no deserto, demonstraram agressividade a Moisés e ao povo (Nm. 21 – 25).

No tempo dos juízes o povo de Israel recebeu um cuidado bastante específico de Deus, pois percebemos que em todo o tempo Deus estava buscando ensinar ao Seu povo a vida de santidade. Ele não queria apenas que o Seu povo carregasse o Seu nome, mas queria que fosse exclusivamente Seu. Por isso, quando percebia que o povo começava a se desviar, Ele intervinha permitindo que inimigos atacassem a Israel ou fechando os céus para que não chovesse na terra. O capítulo 3 do livro de Juízes fornece informações adequadas para a compreensão de todo esse período.

Chegamos à conclusão de que esse período de fome foi resultado da disciplina de Deus sobre Israel. Mas Elimeleque, ao invés de permanecer na cidade e se submeter à disciplina de Deus, resolve sair de Judá para residir na terra de Moabe. A conclusão a que se chega, pela leitura, é que Elimeleque estava tentando fugir da disciplina de Deus que estava vindo sobre o Seu povo. É muito provável que sua rebelião contra a disciplina de Deus tenha sido a causa da sua morte na terra de Moabe. O mesmo ocorreu a Malom e Quiliom, que decidiram permanecer naquela terra – e nesse caso, mais uma das evidências que revelam o desgosto de Deus para com eles está no fato deles não terem conseguido deixar descendência (Gn 20; 29.31-35).

Em 1278 a.C, Eúde matou Eglom, o rei dos moabitas, vencendo a guerra contra eles e os amonitas. Durante a fome que assolou Israel, Elimeleque se sentiu motivado em ir para lá à procura de comida, já que Israel havia dominado aquelas terras e havia paz entre os dois povos.

Porém, Elimeleque e seus filhos morrem, e com isso, Noemi resolve voltar para Belém da Judéia, e sua nora Rute decide ir com ela.

Algo mais nos chama a atenção no livro de Rute, os seus nomes, pois no Antigo Testamento, os nomes não eram dados por acaso; mas representavam uma situação que estava sendo vivenciada no momento do nascimento da criança pela família ou pela nação.

Quando lemos o livro de Rute os nomes, particularmente, chamam a nossa atenção.

·         Elimeleque significa ‘Deus é rei’;

·         Noemi significa ‘deleite’;

·         Malom significa ‘doentio’;

·         Quiliom significa ‘tuberculose’;

·         Orfa significa ‘rebelde’; e

·         Rute significa ‘companheira’.

Sem dúvida, esses nomes apresentam algo sobre realidade das pessoas ou das situações que existiam ao redor delas.

Elimeleque provavelmente recebeu o seu nome como referência à boa situação em que se encontrava Judá no tempo do seu nascimento: o governo de Deus e a prosperidade do povo. E o mesmo se pode dizer quanto ao nome de Noemi. Quanto aos filhos, parece que provavelmente esses nomes não se referem a uma situação do povo de Judá, mas sim à sua própria saúde. É provável que, ao nascerem, eles tinham a saúde bastante debilitada, e sem dúvida a sua morte prematura parece revelar essa realidade de enfermidade em seus corpos.

Por causa disso, eles certamente não poderiam conferir às pessoas a segurança de que estariam para sempre juntos.

 

 


 

3 – A Protagonista do Livro

 

Rute nasceu em família pagã; sua criação não envolveu aprender a lei de Deus, ela não tinha referência às promessas divinas de redenção, nunca fora ensinada sobre verdadeira adoração, sobre viver piedosamente, sobre as promessas do Messias. Apesar disso, ela provavelmente sabia algo sobre os Israelitas, o povo vizinho. Talvez tenha ouvido notícias de que havia uma fome em Belém de Judá; que ironia, na cidade chamada Casa de Pão estava faltando pão…

Um dia chega uma família de hebreus para morar em Moabe. Elimeleque, nome de gente importante, com sua esposa Noemi e seus dois filhos Malom, e Quiliom. E não é que estes hebreus logo se interessam por moças de Moabe?! Rute se casa com um deles e aprende sobre o Deus dos hebreus, Yahweh que os tirou da escravidão no distante Egito.

Analisando a genealogia de Jesus, no livro de Mateus, há menção a cinco mulheres: Tamar, nora de Judá; Raabe, a prostituta de Jericó; Rute; Bate-Seba, a que fora mulher de Urias; e Maria, que fora Sua mãe.

Tamar era hebréia da linhagem de Esaú; Raabe era cananéia;  Bate-Seba e Maria eram israelitas. Mas Rute era moabita. E esse fato é o bastante para torná-la uma figura estranha, porquanto Deus havia decretado que nenhum moabita faria parte do povo de Israel.

 

 Nenhum amonita nem moabita entrará na assembléia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na assembléia do Senhor, eternamente. (Dt 23:3)

 

Portanto, seu casamento com Quiliom e, posteriormente, com Boaz, e dessa vez, na terra de Israel, são atribuídos a duas causas: ou esses israelitas afrouxaram na proibição acerca dos moabitas ou, então, Rute mereceu ser uma exceção à regra, devido à sua excelência de caráter.

Quanto à Rute, ela se integrou perfeitamente ao povo de Israel, o que transparece, acima de tudo, em sua famosa declaração à sogra, Noemi: “Não me instes para que te deixe, e me obrigues a não te seguir; porque aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; e teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rute 1.16).

A origem racial de Rute faz parte do pano de fundo da narrativa. Ela pertencia a um dos povos cuja entrada na comunidade de Israel era vedada até a décima geração (Dt 23.3). Os dois primeiros capítulos do livro armam palco para a introdução de Rute na vida e história do povo de Israel.

Observando a história, percebemos que a situação da mulher na antiguidade era da mais total dependência ao homem. Se não houvesse homem que tomasse conta dela, e se ela não tivesse recursos próprios, geralmente, ficava reduzida a mais abjeta (desprezível) situação. Se fosse viúva, então, seu estado piorava ainda. Muitas mulheres nessas condições só dispunham de uma solução: entregar-se à prostituição.

Era insustentável a situação de Noemi em Moabe. Então ela resolveu voltar à sua terra, velha e amargurada, sem marido, sem filhos, sem netos, com duas noras viúvas e moabitas.

Noemi sabia das dificuldades que as três enfrentariam, mesmo em Israel. Por isso, no caminho, tentou convencer suas duas noras a retornar à terra delas, onde poderiam casar-se de novo. Orfa, viúva de Malom, resolveu atender às instâncias de sua sogra e desistiu de continuar viagem. Mas Rute, não quis afastar-se dela, disposta a compartilhar as durezas da vida diária de mulher estrangeira e viúva na terra de Israel, na época dos Juízes, período extremamente conturbado para o antigo povo de Deus.

Assim, apreensivas quanto ao presente e ao futuro, as duas mulheres finalmente retornaram a Belém de Judá. Os anos se tinham passado, e Noemi envelheceu. Mas os habitantes da cidade ainda se lembravam dela. Desoladas diante da situação de Noemi e Rute, as mulheres judias perguntavam:

 

Não é esta Noemi?”. E ela, muito triste e amargurada de espírito, respondia: “Não me chameis Noemi (no hebraico, “agradável”), chamai-me Mara (no hebraico, “amarga”), porque grande amargura me tem dado o Todo-poderoso. (Rute 1.20)

 

Um dado interessante aparece no último versículo do primeiro capítulo do livro: Noemi e Rute “chegaram a Belém no princípio da sega das cevadas”. Esse informe permite-nos saber que a seca terminara em Judá — os campos estavam novamente floridos e produtivos. E também faz-nos saber que elas chegaram entre março e abril, pois na Palestina, era a primavera.

Semanas mais tarde começaria a colheita do trigo e do linho. De acordo com Lv 23.10-11, no mês de abib, mais ou menos correspondente ao nosso abril, ocorreria a entrega das primícias do campo.

Portanto, tudo era festivo em Israel.


4 – A Lei do Resgatador

 

Todo país tem suas leis, seus costumes e suas tradições, porém nada se compara aos países do oriente, cujas leis de usos e costumes muitas vezes não estão no papel e nem precisam, já que ocupam o coração do povo, que é especialmente fiel a tais regras sociais.

Dentre tantas leis judaicas a do resgatador talvez seja a mais bela e também a mais difícil de entender com nossa mente ocidental. Resgatador é o mesmo que redentor, libertador, remidor.

O desejo do homem judeu era ter uma grande prole, que garantisse a perpetuação de seu nome no meio dos filhos de Israel, por isso, para uma mulher judia, não ter filhos era desonroso, pois não poderia honrar tal costume.

Para contemplar o desejo da família judaica, foi elaborada uma lei que determinava que todo homem casado tivesse o direito de ter um filho, uma descendência. Sabendo que não se pode obrigar Deus a dar filhos a quem quer que seja, a lei do levirato dizia que se um homem morresse sem deixar filhos, então um de seus parentes mais próximos estaria obrigado a casar com a viúva, e o primeiro filho homem que nascesse do novo casal, seria considerado (para todos os efeitos) filho do falecido (o primeiro marido). O parente que casasse com a viúva era chamado de remidor (Lv 25:47-54).

O remidor também ficava com as propriedades do falecido, mas somente para administrá-las, porque um dia elas passariam para o descendente do falecido. Era uma legislação bem elaborada e que funcionava a contento. Foi assim que Boaz entrou na vida de Rute e de sua sogra Noemi.

Naquele tempo não existia nenhuma proteção social para as viúvas e órfãos, e Rute saiu para batalhar pelo sustento delas cumprindo outra lei judaica, que dizia que num campo, na hora da colheita, o que caísse no chão não podia ser juntado pelos segadores, pois serviria de sustento para as viúvas, órfão e estrangeiro (Lv 19:9-10)

Rute foi colher espigas nos campos de Boaz sem saber que ele era parente próximo de seu falecido sogro e, portanto, um possível remidor dela.

Boaz se encantou por Rute, também sem saber quem era aquela moça bonita que, humildemente, colhia as espigas que caiam no chão.

Deu tudo certo e Boaz remiu Rute, se casou com ela, amparou a velhice de Noemi e teve um filho chamado Obede. Rute e Raabe são duas “estrangeiras” que têm o privilégio de ter seus filhos na genealogia de Jesus. Obede, o filho de Rute com Boaz gerou a Jessé e Jessé a Davi, ou seja, o filho de Rute veio a ser o avô do rei Davi.

 

5 – Conclusão:

 

O livro de Rute conclui com uma curta genealogia, ligando Perez (filho de Judá) com Davi.

Obede, filho de Rute e Boaz, torna-se o pai de Jessé, e Jessé, o pai de Davi, o maior rei de Israel.

O próprio Messias viria ao mundo mil anos depois do grande monarca, sendo chamado filho de Davi.

O autor do livro de Rute não olha apenas para Obede, ele levanta seus olhos e vê além. Ele olha para a história da redenção. Deus não estava trabalhando apenas para prover bênçãos materiais a Noemi, Rute e ao povo de Belém. Ele estava preparando o cenário para a chegada de Davi.

O nome Davi trazia consigo a esperança do Messias em um novo tempo de paz, justiça e liberdade, em que o pecado e a morte seriam vencidos. O livro de Rute abre as cortinas da esperança e aponta para Jesus.

A lição que aprendemos neste livro é que não importa a nossa origem o importante é que se nos agarrarmos ao nosso resgatador Jesus Cristo, Ele nos fará parte da família de Deus. 

 

Faltava pão na casa de Pão (Belém), e Deus usou a estrangeira Rute para trazer a cabo o nascimento, naquela mesma cidade, do Pão da Vida.

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