2º Livro Poético - Salmos

Liçao 16 – 2º Livro Poético – Salmos

 

Autor: A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao rei Davi, o qual teria escrito pelo menos 73 poemas. Asafe é considerado o autor de 12 salmos. Os filhos de Corá escreveram em torno de nove salmos e o rei Salomão ao menos dois. Hemã, com os filhos de Corá, bem como Etã e Moisés, escreveram no mínimo um cada. Todavia, 49 salmos seriam tidos de autoria anônima. Com exceção de Salomão e Moisés, todos esses autores adicionais foram sacerdotes ou levitas responsáveis pelo fornecimento de música no santuário durante o reinado davídico.

Data: O livro de Salmos foi o que mais demorou a ser escrito, vai desde a data aproximada de 1440 a.C., quando houve o êxodo dos Israelitas do Egito até o cativeiro babilônico em 586 a.C.

Local: Os salmos foram escritos em diversos lugares, justamente por se tratar de uma coletânea escrita por autores diferentes em diferentes tempos. Tiveram salmos escritos no deserto, em Jerusalém, na Babilônia e em outros lugares às margens da Palestina.

Palavra-Chave: Louvor

 

Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos. (Salmo 19:1)

 

1 – Introdução

 

Durante a nossa vida experimentamos um misto de sentimentos que muitas vezes temos vergonha de expressar. Outros se exasperam em seus sentimentos mostrando com muita facilidade aquilo que está lhe incomodando em certos momentos. Porém, através da música e da poesia, muitos enxergam como a única maneira de se expressar plenamente.

O livro de Salmos fala a este lado da experiência humana por meio das palavras poéticas de pessoas que ofereceram seus sentimentos a Deus.

É como se escrevessem aquilo que sentiam naquele momento para guardar. Uma forma de livro, ou diário pessoal.

Assim como muitos têm procurado se expressar em redes sociais expondo seus sentimentos, naquele tempo, as pessoas escreviam e muitas vezes essas escritas se transformavam em música.

O livro de Salmos inclui várias orações que expressam fúria (Sl 35),  medo (Sl 2),  frustração (Sl 79) e por aí vai. O incrível do livro de Salmos é que eles geralmente se dirigiam a Deus e faziam de suas explosões momentos de puro desabafo a Deus. O que nos revela um coração sincero diante daquele que vê tudo e que ainda que você não escreva, sabe o que se passa no seu coração neste momento, até os desejos mais sombrios.

Você teria coragem de escrever um salmo neste momento?! Expressaria com sinceridade o que está importunando seu coração?! É exatamente isso que o livro de salmos nos revela. Um coração aberto diante de Deus seja por uma tristeza ou alegria, em forma de lamento ou adoração.

2 – Origem

 

Salmos é um livro do Tanakh[1] (fazendo parte dos escritos ou Ketuvim[2]) e da Bíblia Cristã. Em nossa Bíblia, faz parte de um conjunto conhecido como livros poéticos ou de sabedoria (sapiensais), sendo o primeiro livro a falar claramente do Messias (ou Cristo), Seu reinado, e do Juízo Final.

É o maior livro de toda Bíblia  e constitui-se de 150 (ou 151 segundo a Igreja Ortodoxa) cânticos e poemas proféticos, que são o coração do Antigo Testamento. Eram utilizados pelo antigo Israel como hinário no Templo de Jerusalém, e hoje são utilizados como orações ou louvores, no Judaísmo, no Cristianismo e também no Islamismo (o Corão no cap. 17, verso 82, refere os salmos como "um bálsamo").

A palavra Salmos é encontrada tanto no grego traduzido como música, quanto no hebraico traduzido como louvores.

Os salmos foram inicialmente transmitidos através da tradição oral e a fixação por escrito teve lugar, sobretudo através do movimento de recolha das tradições israelitas, iniciado no exílio babilônico pelo profeta Ezequiel (séculos VII-VI a.C.). Tal como em outras tradições culturais, também a poesia hebraica andava estreitamente associada à música.

Na Igreja Católica, os 150 salmos formam o núcleo da oração cotidiana: a chamada Liturgia das Horas, também conhecida por Ofício Divino e cuja organização remonta a São Bento de Núrsia. A oração conhecida por rosário, com as suas 150  Ave Marias, formou-se por analogia com os 150 salmos do Ofício. Outra forma muito popular é organizar listas de Salmos por finalidade, isto é, salmos para serem rezados em determinadas ocasiões como festas, doenças, colheitas ou funerais. Historicamente, a primeira destas listas foi organizada a partir da prática de Santo Arsênio da Capadócia, que rezava um salmo como uma oração com certas finalidades. Nas igrejas protestantes ainda usamos os salmos assim.

O livro dos Salmos é um dos mais citados pelos escritores do Novo Testamento. O próprio Jesus orava os salmos, e sua vida e ações trouxeram significado pleno para o sentido que essas orações já possuíam. Depois dele, os salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus, comprometido com Jesus Cristo para a transformação do mundo, em vista da construção do Reino.

Vários salmos são proféticos ou messiânicos, pois se referem à vinda do Cristo e, por isso, existem muitas citações de versos dos salmistas no Novo Testamento com o propósito de provar o cumprimento das profecias na pessoa de Jesus.

O livro dos Salmos chegou até nós em sua versão grega (Septuaginta)[3]. A versão grega deste livro, como de toda a bíblia, foi utilizada pelos cristãos convertidos e por São Jerônimo na confecção de sua edição "Vulgata"[4], tradução latina dos livros inspirados. Na Reforma Protestante é que se buscaram os manuscritos originais hebraicos para fazer novas traduções e foi constatada a diferença que havia entre as duas traduções: as versões, apesar de terem o texto completo, diferem na numeração de capítulos e versículos. Por isso algumas Bíblias diferem na numeração dos salmos.

No Judaísmo e no Protestantismo, a numeração usada sempre foi a hebraica.

 

3 - Conteúdo e Estrutura do Livro

 

O livro de Salmos está dividido em cinco livros, sendo que cada um termina com uma doxologia (forma de louvor à glória de Deus).

A tradução judia explica o formato do livro como um eco consciente do Pentateuco. A Literatura judia do período talmúdico (entre 200 e 500 d.C.) afirma que “assim como Moisés deu a Israel os cinco livros da Lei, assim Davi deu cinco livros de salmos a Israel.

O primeiro grupo, relacionado o Gênesis, tem muito a dizer sobre o homem. O segundo grupo, correspondente ao Êxodo, tem muito a dizer sobre a libertação. O terceiro, relativo à Levítico, encontra,  nos salmos de Asafe, o destaque ao santuário. O quarto grupo, associado a Números e começando com o salmo 90, a oração de Moisés, ressalta a época em que a inquietação e a peregrinação hão de cessar no reino vindouro, quando as nações se inclinarão perante o Rei de Deus. O quinto grupo, correspondente a Deuteronômio, contém muita ação de graça pela fidelidade de Deus e salienta muito a palavra do Senhor, como, por exemplo, no mais longo dos salmos, que tem por tema a Palavra escrita do Senhor.

 

 

 

O PENTATEUCO DE ISRAEL PARA DEUS

 

CAPÍTULOS

 

AUTORIA

 

CORRESPONDÊNCIA

 

TEMA

 

REFERÊNCIA

 

Livro I

1 - 41

Davi

Gênesis

Criação

Salmo 8

 

Livro II

42 - 72

Davi, filhos de Corá, Asafe e Salomão

 

Êxodo

 

Salvação e Livramento

 

Salmo 46

Livro II

73 - 89

Asafe e filhos de Corá

 

Levíticos

 

Santificação

 

Salmo 73

Livro IV

90 - 106

Anônimos e de Davi (101 e 103)

Números

Fidelidade de Deus

Salmo 90

Livro V

107 - 150

Anônimos e Davi (138-145)

 

Deuteronômio

 

A Lei do Senhor

 

Salmo 119

 

3.1 - Salmos Proféticos:

 

Os textos de Qumran, nos dias antes de Jesus, mostram que a tradição judaica já reconhecia nos Salmos um elemento profético. Esse elemento profético fala do Cristo de Deus: Jesus de Nazaré. Em Lc. 24:44, o próprio Senhor vê elementos que falam Dele nos salmos. Em At. 2, Pedro cita palavras dos salmos como se referindo ao Cristo.  Outros exemplos podem ser dados:

·         Alguns salmos apresentam a figura de um rei, sacerdote e juiz que nunca se concretizou em nenhum dos reis de Israel (Sl. 2; 89; 110), os cristãos viram nelas menções à Jesus;

·         O Salmo 22 é citado por Marcos (Mc 15:24), por João (Jo. 20:25) e o Salmo 69 é citado por Mateus (Mt. 27:34,38) como sendo cumpridos em Cristo Jesus;

·         O salmo 2:7 é citado no batismo de Jesus (Mt.3:17), sua transfiguração (Mt. 17:5) e sua ressurreição (At. 13:33); O salmo 8:6 é aplicado à Jesus em Hebreus 2:6-10; O Salmo 16:10 é citado em Atos 2:27; 13:35; O Salmo 40:7-8 é citado em Hebreus 10:7; O salmo 110:4 é citado em Hebreus 7:17; O Salmo 118:22 é citado em Mt. 21:42 e outras passagens e o salmo 118:26 em Mt 21:9.

 

3.2 - Os Salmos e a História de Davi

 

Vários salmos relacionam-se com os acontecimentos que marcaram a vida do rei Davi.

O Salmo 59 tem a ver com a ocasião em que Saul teria enviado homens à casa de Davi para prendê-lo. Já os Salmos 34 e 56 referem-se à sua fuga de Saul. Por sua vez, o Salmo 142 foi composto quando David encontrava-se escondido na caverna de Adulão, na região do mar Morto.

Ao terminar a perseguição de Saul, Davi compõe o Salmo 18, ressaltando a fidelidade de Deus.

Quando é confrontado pelo profeta Natã sobre o seu adultério com Bate-Seba e a morte de Urias, Davi compõe o Salmo 51, demonstrando o seu verdadeiro arrependimento.

Novamente ao ser perseguido, agora por seu filho Absalão, David ainda escreve os Salmos 3 e 7, o que revela sua confiança no livramento de Deus.

Além destes citados acima, outros Salmos que se relacionam com passagens da vida de Davi seriam o 52 (depois que Doengue assassinou os 85 sacerdotes e suas famílias – 1 Sm 22:5 ; 23;14), o 54 (quando os zifeus tentaram traí-lo – 1 Sm 23: 15-29), o 57 (enquanto se escondia em uma caverna – 1 Sm 22 a 24) e o 63 (enquanto escondia-se no deserto de En-Gedi – 1 Sm 24).

Importante alertar novamente que tais Salmos referem-se à numeração da Bíblia protestante, o que deve ser observado pelo leitor ao consultar a Bíblia católica, cujo conteúdo permanece o mesmo.

 

3.3 – Gêneros Literários

 

Uma leitura atenta dos Salmos aponta uma série de características de forma e conteúdo que permitem classificá-los em grupos, de acordo com o seu gênero literário. Por outro lado, a identificação desses gêneros é muito importante para compreender os salmos adequadamente.

Esta divisão é importante observar a título de estudo e pesquisa bíblica, visto que traz um entendimento mais apurado do contexto.

·         Hinos, utilizados no louvor a Deus (8; 15; 19.1-6; 24; 29; 33; 46-48; 76; 84; 93; 96-100; 103-106; 113-114; 117; 122; 135-136; 145-150). Estão incluídos nessa categoria dois subtipos de salmos: os hinos de entronização, que celebram Deus como Rei de toda a criação (47; 93; 96-100), e os cânticos de Sião, que expressam devoção a Jerusalém e ao seu santuário (46; 48; 76; 84; 87; 122).

·         Lamentos ou súplicas, tanto individuais, em súplicas de auxílio diante de alguma aflição física ou moral (3-7; 9-10; 12-14; 17; 22; 25-26; 28; 31; 38-39; 41-43; 51; 54-59; 61; 63-64; 69-71; 77; 86; 88; 94; 102; 109; 120; 130; 139-143), como coletivos, quando todo o povo implora ajuda em momentos de calamidade nacional, tais como uma seca, uma epidemia ou uma grave derrota militar (44; 60; 74; 79-80; 83; 85; 90; 123; 125-126; 129; 137).

·         Cânticos de confiança, nos quais se expressa a certeza da ajuda iminente de Deus (11; 16; 23; 27; 62; 131).

·         Ações de graças, expressões de gratidão pela ajuda recebida (30; 32; 34; 40.1-10; 63; 65; 67; 75; 92; 103; 107; 111; 116; 118; 124; 136; 138).

·         Relatos de história sagrada, que narram às intervenções redentoras de Deus (78; 105-106; 135-136).

·         Salmos reais, que podem ser de diversos gêneros e que eram usados em ocasiões especiais da vida do rei, tais como a sua coroação, o seu casamento ou alguma ação militar (2; 18; 20-21; 28; 45; 61; 63; 72; 84; 89; 101; 110; 132; 144).

·         Salmos sapienciais ou didáticos, que são meditações sobre a natureza da vida humana e das ações divinas (1; 37; 49; 73; 91; 112; 119; 127-128; 133).

·         Salmos de adoração e louvor (15; 24; 50; 66; 68; 81-82; 108; 115; 118; 121; 132; 134).

·         Salmos de peregrinação, que os peregrinos entoavam a caminho de Jerusalém ou no seu regresso à Cidade Santa (84; 107; 122).

·         Salmos de gênero misto, ou seja, que combina dois ou mais estilos literários (36; 40).

·         Salmos acrósticos, que utilizam estruturas poéticas baseadas no alfabeto hebraico; cada verso começa com uma letra sucessiva do alfabeto (9-10; 34; 119).

 

3.4 – Salmos Imprecatórios

 

Finalmente, não se pode deixar de lado o fato de alguns salmos serem particularmente desagradáveis aos ouvidos cristãos. Às vezes, os salmistas se encontram totalmente indefesos diante da maldade, da opressão e da violência e, por isso, não só clamam ao Senhor, que é o único que pode salvá-los, mas também pedem a Deus que faça cair sobre os seus inimigos os piores males. Assim, se unem num mesmo salmo as súplicas mais ardentes e as mais violentas imprecações (Sl 58.6-11; 83.9-18; 109.6-19;137.7-9).
As dificuldades que essas passagens expõem são evidentes, e, por isso, é necessário compreendê-las situando-as no seu verdadeiro contexto. Para isso, é preciso recordar, em primeiro lugar, que os salmos foram formados sob o regime da antiga lei, quando Jesus ainda não havia revelado que o mandamento do amor ao próximo inclui também o amor ao inimigo (Mt 5.43-48; Rm 12.17-21). Além disso, os salmos provêm de uma época na qual ainda eram insuficientes e rudimentares as ideias sobre a vida além da morte e sobre a recompensa reservada aos justos na vida eterna (Sl 6.5). De fato, segundo as ideias correntes entre os antigos israelitas, as boas e más ações eram recompensadas na vida presente, e o malvado devia receber o seu castigo o quanto antes, a fim de que se tornasse manifesto que há um Deus que julga na terra (Sl 58.11). Finalmente, o cristão não pode deixar de reconhecer a fome e sede de justiça que se expressam nessas súplicas ao Senhor, para que se manifeste como Juiz justo (Jr 15.15). O amor aos inimigos não significa indiferença frente ao mal, e, quando triunfam a injustiça, a violência, a opressão aos mais fracos e o desprezo a Deus, o cristão pode dizer ao Senhor: 

 

Exalta-te, ó juiz da terra; dá o pago aos soberbos. Até quando, Senhor, os perversos até quando exultarão os perversos? (94.2-3).

 

5 - Conclusão

 

Em cada salmo enxergamos o senhorio de um Deus imutável, e enxergamos as mutações humanas em lidar com as circunstâncias da vida.

Como é maravilhoso percebermos que Deus vai além das experiências humanas, e que mesmo assim, tem disponibilidade em estar perto, em ser tocado por nós, em caminhar conosco e dividir Seus segredos a fim de nos animar.

O livro de salmos nos ensina que podemos trazer todos os nossos sentimentos a Deus. Que podemos nos desmascarar na presença Dele, abrir a nossa alma, escancarar nossos corações, e Ele estará ali, ouvindo, pronto a nos abraçar, sem nenhuma surpresa no olhar.



[1] Este termo hebraico se refere ao conjunto de livros que compõem a Bíblia hebraica. Equivale ao Antigo Testamento do Cristianismo. Esta palavra é um acrônimo que se refere às três seções da Bíblia hebraica: Torá, Nevi'im e Kentuvim.

[2] A Bíblia hebraica é chamada de Tanak, e está dividida em três partes: Torah, Neviim e Ketuvim, que são respectivamente a Lei, os Profetas e os Escritos, nesta ordem.

[3] Tradução do Antigo Testamento do hebraico para o grego que, escrita nos séculos III e II a.C., com alterações que se diferem do texto original, foi aceita pelos Judeus do Egito; versão dos setenta. Etimologia (origem da palavra Septuaginta).

[4] A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. ... Vulgata constitui um MARCO para a Igreja de língua latina.

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