1º Livro Poético - Jó

Autor: Desconhecido - a tradição judaica atribui a Moisés.

Data: Período entre 1997 a 1967 a.C (Bíblia em Ordem Cronológica)

Local: Uz (fronteira entre a Palestina e a Arábia, ao sudeste do Mar Morto, próximo a Edom e a Midiã –(Lm 4:21)

Palavra-Chave: Soberania de Deus

 

“Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos”. (Jó 42:5)

 

1 – Introdução

 

Apesar de estar situado no meio da Bíblia cristã, o livro de Jó foi o primeiro a ser escrito e conta a história de um homem que viveu na era patriarcal, na mesma época que Isaque e Jacó.

Seu nome não tinha um significado atraente: Jó = odiado, aborrecido, hostilizado ou perseguido.

Era filho de Zerá neto de Esaú, descendente assim, em quinto grau de Abraão (Gn 36:33). A História judaica mostra que seu nome hebreu era Jobab (Gn 36:31-34). Apesar de a monarquia ser mencionada pela primeira vez no livro de Samuel, é importante observarmos que desde Ninrode os clãs eram governados por líderes que se chamavam governadores ou príncipes. Jó não fugiu a regra, foi um importante líder edomita mencionado na Bíblia pelo nome Jobab (que significa aclamar, tocar a trombeta, rugir), mas que teve seu nome conhecido ou talvez mudado, pelas circunstâncias pelas quais passou em sua vida.

Outra prova de que a história de Jó estava inserida no período patriarcal, é que no livro não faz menção do templo, tanto o móvel como o fixo, sobre a lei mosaica, sobre o sacerdócio araônico nem tampouco sobre a nação de Israel (tribos, cidades, etc). Antes, seu relato nos mostra que o próprio pai de família era o sacerdote do lar, entregando ofertas a Deus e cultuando através de sacrifícios, assim como Abraão (Gn 12:6-7; 12:8; 13:18; 22:1-14), Isaque (Gn 26:25) e Jacó (Gn 28:18-22; 35:7).  É por isso que na Bíblia em Ordem Cronológica, o livro de Jó está inserido entre os capítulos 11 e 12 de Gênesis.

Vale também ressaltar que o caráter poético presente em vários versos do livro de Jó não significa que este seja meramente poético e que não faça parte de uma história real. Pelo contrário, Jó é mencionado como um personagem real da história juntamente com Daniel e Noé em Ezequiel 14:14,20, e Tiago o menciona como um verdadeiro exemplo de perseverança (Tg.5:11). Ambos não usariam Jó como um exemplo caso fosse alguém que não tivesse. Portanto, Jó é uma história real contada através de um estilo de escrita hebraico chamado poesia.

2 – Contexto do Livro

 

O livro em apreço começa falando sobre o seu personagem principal e o identifica como um homem íntegro e temente a Deus, com uma família bem estruturada e possuidor de muitos bens, sendo considerado pelo escritor do livro como o maior do oriente antigo.

Depois o livro descreve uma cena no Céu onde os personagens principais são Deus e o Diabo.

Em seguida o livro fala sobre a desventura de Jó, que por instigação do Diabo tem os seus bens roubados por tribos guerreiras que viviam de pilhagens. E continuando o relato, o livro narra à perda dos seus dez filhos (a casa onde estavam se confraternizando caiu e todos morreram soterrados).

No entanto, quando Jó perdeu a sua família e os seus bens, adorou a Deus dizendo: “... Nu sai do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21).

Mas não parou por ai, para aumentar as desventuras de Jó, no segundo capitulo, o livro diz que ele foi acometido de uma doença maligna que tomou conta de todo o seu corpo, desde o alto da cabeça até a planta dos pés, e que sabendo do ocorrido, três de seus amigos vieram se condoer com ele (Elifaz, Bildade e Zofar e mais tarde ajuntou-se outro Eliú). 

Do capítulo 3 ao 41, o livro descreve os discursos proferidos por tais amigos terminando com o próprio Deus respondendo as inquietações e dúvidas de Jó. Tais discursos começam com Jó se lamentando pelo drama que está passando e seus amigos o acusando de pecado, ao passo que Jó se defende dizendo que não tinha cometido pecado.

Na época, a teologia predominante era a da causa e efeito, ou seja, se a pessoa prosperava era porque estava bem com Deus e se tivesse perda ou estivesse passando por algum sofrimento, a causa era consequência do pecado cometido. Esse debate só ganha outra conotação quando o mais jovem dos quatro amigos de Jó, Eliú, discursa sobre o plano de Deus para a vida dos seres humanos, incompreensível ao homem, mas com uma finalidade benéfica, mesmo nas perdas e no sofrimento físico.

Tal teologia era inconcebível na época, o que mostra que Eliú, apesar de ser o mais novo dos quatro, possuía uma sabedoria dada por Deus que era correta, tendo mais tarde, a confirmação do apóstolo Paulo.

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. (Rm 8.28)

 

Depois do discurso de Eliú, que não foi refutado por Jó, discursa o Deus dos Céus revelando a Sua soberania e o Seu propósito.

Nas humildes palavras de Jó depois do discurso de Deus, podemos perceber que todo aquele drama teve uma finalidade benéfica para aquele homem, que foi o seu aprofundamento espiritual.

 

Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza. (Jó 42.5,6)

 

O livro termina com Deus restaurando a sorte de Jó, restituindo em dobro os bens perdido, a sua saúde, e dando-lhe mais dez filhos. Não sabemos que se esses filhos foram com a mesma mulher que desesperada tinha dito ao seu marido que amaldiçoasse a Deus e se suicidasse ou se foi com outra mulher. O que sabemos é que ele obedeceu a ordem dada por deus de orar pelos seus amigos e logo depois sua sorte foi restaurada.

 

 

3 - O Livro de Jó e suas Características Especiais

 

O livro é de valor inestimável pela revelação bíblica que contém sobre assuntos-chaves tais como: Deus, a raça humana, a criação de Satanás, o pecado, o sofrimento, a justiça, o arrependimento e a fé.  

Boa parte do livro ocupa-se da avaliação teológica errônea que os amigos de Jó fizeram do sofrimento deste. A repetição frequente desta avaliação errônea, talvez indique tratar-se de um erro comum entre o povo de Deus; erro este que exige correção.

O papel de Satanás como “adversário” dos justos, no livro de Jó é demonstrada mais do que em qualquer outro livro do AT. Entre as dezenove referências nominais a Satanás no AT, quatorze ocorre em Jó.

Este livro também demonstra com toda clareza o princípio bíblico de que os crentes são transformados pela revelação, e não pela informação (42.5,6).

O Redentor a quem Jó confessa (19.25-27), o Mediador por quem ele anseia (9.32,33) e as respostas às suas perguntas e necessidades mais profundas, todas têm em Jesus Cristo a resposta.

Jesus identificou-se inteiramente com o sofrimento humano (Hb 4.15,16; 5.8), ao ser enviado pelo Pai como Redentor, mediado e salvador da humanidade.

Jó ilustra muito bem a verdade neo testamentária de que quando o crente experimenta perseguição ou algum outro severo sofrimento, deve perseverar firme na fé e continuar confiando Naquele que julga corretamente, assim como fez o próprio Jesus quando aqui sofreu (1 Pe 2.23).

Jó 1.6 - 2.10 é o mais detalhado quadro do nosso adversário, juntamente com 1 Pe 5.8,9.

 


4 – Lições que Aprendemos com o Livro

 

Jó é um personagem ímpar na bíblia que passa por quatro níveis diferentes de degradações:

1.    Material – Passa da riqueza para a pobreza, do bem estar à calamidade;

2.    Social – Passa da honra ao desprezo;

3.    Físico – Passa da saúde à doença;

4.    Emocional – Passa da alegria a depressão total.

Em seus 42 capítulos, vemos a queda de um homem (Jó 1: 2-3) em todos os sentidos humanos, mas podemos enxergar a firmeza espiritual que o mantém firme em sua fé, culminando na sua restauração e restituição física, material, moral e social (Jó 42: 12-15).

E por conhecermos o início, o meio e o fim da história, podemos tirar algumas lições para a nossa vida diária.

4.1 - Pessoas Boas Sofrem

 

Talvez o ponto principal do livro seja o simples fato que pessoas fiéis a Deus ainda sofram nesta vida. O primeiro versículo do livro já define do ponto de vista de Deus o caráter de Jó.

 

Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal. (Jó 1:8)

 

Enquanto entendemos que o sofrimento entrou no mundo por causa do pecado (Gn 3:16-19), aprendemos em vários trechos bíblicos que a dor e a tristeza atingem as pessoas boas e dedicadas. Jó, um homem íntegro, sofreu imensamente. Paulo, um servo dedicado ao Senhor, sofreu muito mais do que a grande maioria dos ímpios (2 Co 11:23-27). Mesmo quando ele pediu a Deus, querendo alívio de algum problema, Deus recusou seu pedido (2 Co 12:7-9). Mas, não devemos estranhar isso, pois o próprio Filho de Deus sofreu na carne (Hb 2:9-10,18)

4.2 - Amigos nem sempre Ajudam

 

Três amigos de Jó ficaram sabendo de seu sofrimento, "e combinaram ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo" (Jó 2:11). Mas as palavras deles não ajudaram. Ofereceram explicações baseadas nas opiniões pessoais, e não na verdade Divina. Onde Deus não tinha falado, eles ousaram falar. O resultado não foi consolo e ajuda, e sim perturbação e desânimo.

A mesma coisa acontece hoje. Quando alguém sofre de um problema de saúde, outras pessoas tendem falar sobre algum caso triste de alguém que teve a mesma doença e morreu. Quando uma pessoa amada morre, muitas pessoas procuram confortar a família com palavras insensatas e até mentirosas. É melhor falar umas poucas palavras com compaixão do que falar muito e entristecer a pessoa mais ainda. Quando sofremos perda, é melhor procurar conselho na Palavra de Deus ou de pessoas que a conhecem e que vivem segundo a vontade do Senhor.

4.3 - Deus não Explica Tudo

 

Quando sofremos, é natural perguntar: "Por quê?". Jó fez isso (Jó 3:24), Habacuque fez a mesma coisa (Hc 1:3). Milhões de outras pessoas fazem a mesma pergunta.

É importante observar que Deus não responde a todas as nossas perguntas. Pode ler o livro de Jó do começo ao fim, e não encontrará uma resposta completa de Deus à pergunta do sofredor. Durante todo o relato da história, Deus deixou Jó e seus amigos ponderarem o problema. E quando falou no fim do livro, não explicou o porquê.

Lembrem-se, nós sabemos o que aconteceu, o autor nos narrou a provocação do Diabo e a permissão de Deus para prova-lo. Mas o livro não narra que Jó soube os motivos.

Porém, a partir do capítulo 38, Deus afirma que o homem é mera criatura, e não é capaz de entender muitas das coisas de Deus, e por isso não é digno de questionar a sabedoria divina. Jó entendeu a correção de Deus, e respondeu humildemente: 

 

Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei" (Jó 40:4-5). 

 

Todavia, Jó pediu desculpas a Deus por ter duvidado da Sua justiça e bondade.

 

Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza. (Jó 42:3,6).

 

4.4 - Fiéis no Sofrimento

 

Nós vamos sofrer nesta vida. Pessoas que dizem que os filhos de Deus não sofrem são falsos mestres que não conhecem ou não aceitam a Palavra do Senhor.

Jó perdeu tudo. Jeremias foi preso. João Batista foi decapitado. Jesus foi crucificado. Estêvão foi apedrejado. Paulo sofreu naufrágio e prisões. Você, também, vai sofrer. Os problemas da vida não sugerem falta de fé, e não são provas de algum terrível pecado na sua vida. Às vezes, as provações vêm como disciplina de Deus (Hb 12:6-13); às vezes, não. Mas sempre são oportunidades para crescer (Tg 1:2-4), e convites para adorar a Deus (Tg 5:13; Jó 1:20).

 

5 – Conclusão

 

O Livro de Jó nos lembra de que existe um “conflito espiritual” acontecendo por trás das cenas sobre o qual normalmente não sabemos nada. Muitas vezes nos perguntamos por que Deus permite algo, e acabamos questionando ou duvidando da bondade de Deus sem ver a imagem completa.

O Livro de Jó nos ensina a confiar em Deus em todas as circunstâncias, não apenas quando não entendemos, mas apesar de não entendermos.

O salmista nos diz: “O caminho de Deus é perfeito” (Sl 18:30). Se os caminhos de Deus são “perfeitos”, então podemos confiar que tudo o que Ele faz e tudo o que Ele permite também é perfeito. Isso pode não nos parecer possível, mas nossa mente não é a mente de Deus.

 

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. (Is 55:8-9). 

 

No entanto, a nossa responsabilidade para com Deus é obedecer e confiar Nele, submetendo-nos à Sua vontade, quer entendamos ou não.



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