7º Livro Histórico - Esdras

Autor: Escrito pelo sacerdote e escriba Esdras.

Data: Registra acontecimentos entre o período de 539 a 445 a.C

Local: Babilônia e Jerusalém

Contemporâneos: Neemias, Zacarias e Ageu

 

Cantavam alternadamente, louvando e rendendo graças ao SENHOR, com estas palavras: Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre sobre Israel. E todo o povo jubilou com altas vozes, louvando ao SENHOR por se terem lançado os alicerces da sua casa. (Esdras 3:11)

1 – Introdução

Na Bíblia cristã, o livro de Esdras é tratado como um dos livros históricos, posicionado entre 2 Crônicas e Neemias. No entanto, originalmente era combinado com Neemias num único livro (Esdras-Neemias), e foram separados por volta do século III pelo estudioso cristão Orígenes, e a separação fora adotada pela Bíblia cristã na tradição da Europa ocidental quando Jerônimo a usou na sua tradução da Bíblia para o latim, a Vulgata. Mas foi somente durante a Idade Média que os dois livros foram separados também na Bíblia hebraica.

O tema é o retorno a Jerusalém depois do cativeiro da Babilônia e o livro está dividido em duas partes: 

1.    Conta a história do primeiro retorno dos exilados, no primeiro ano de Ciro, o Grande (538 a.C.) até a finalização e a dedicação do novo Templo de Jerusalém no sexto ano de Dario I (515 a.C.);

2.    Conta à missão subsequente de Esdras a Jerusalém e sua luta para purificar os judeus, do que o livro chama de pecado do casamento com não judeus, ou jugo desigual. Juntamente com o Livro de Neemias, representa o capítulo final na narrativa histórica da Bíblia hebraica.

É importante notar que Esdras não fazia parte dos judeus que voltaram do exilio em 536 a.C. com Zorobabel, mas conta a história desde o inicio para que haja uma sequencia lógica. Sua aparição se dá no capítulo 7 do livro, quando ele começa contar a respeito da sua participação na história. Isso se dá no ano de 458 a.C. dando seguimento até 445 a.C. em continuidade com livro de Neemias.

Apesar de estar no meio da Bíblia, cronologicamente está posicionado junto com os profetas Malaquias e Zacarias.



2 - Propósito do Livro

O livro de Esdras dedica-se a eventos que ocorreram na terra de Israel na época do retorno do cativeiro babilônico e nos anos seguintes, cobrindo um período de aproximadamente um século que começou em 539 a.C.

A ênfase do livro é a reconstrução do Templo, mas abrange o retorno do cativeiro até o decreto de Artaxerxes (459 a.C), mencionado no início do livro de Neemias.

O livro também contém registros genealógicos extensos, principalmente com o objetivo de estabelecer as reivindicações ao sacerdócio por parte dos descendentes de Arão.

Vemos também, no livro de Esdras uma continuação do tema bíblico do remanescente do povo de Deus.

Sempre que um desastre ou um julgamento acontecia, Deus conserva para Si um grupo remanescente:

·         Noé e sua família da destruição do dilúvio;

·         Os 700 profetas reservados em Israel apesar da perseguição de Jezabel e Acabe.

·         Do cativeiro na Babilônia, Deus também resgata o Seu remanescente e levando-os para a Terra Santa. Cerca de cinquenta mil pessoas (49.897 pra ser exato) retornam para a terra da Judéia mencionado em Ed 2:64-67, no entanto, ao comparar-se com os números em Israel durante seus dias de prosperidade sob o rei Davi, seu comentário é: “pois somos o restante que escaparam, como hoje se vê”. O tema de remanescente também é encontrado no Novo Testamento, quando Paulo nos diz que “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm 11:5). Embora a maioria das pessoas dos dias de Jesus tenha o rejeitado, restaram algumas pessoas a quem Deus reservou em seu Filho e na aliança de Sua graça. Ao longo de todas as gerações desde Cristo, há um remanescente dos fiéis cujos pés encontram-se na estrada estreita que conduz à vida eterna (Mt 7:13:14). Este remanescente será preservado pelo poder do Espírito Santo que os selará e que vai os entregará com segurança no último dia (2 Co 1:22, Ef 4:30).

3 – Contexto Histórico

Esdras começa onde 2 Crônicas termina seu registro, com o decreto de Ciro permitindo que os judeus voltem a Jerusalém.

A história relatada neste livro abrange oito décadas, encerrando em 445 anos antes do nascimento de Jesus.

Os assírios espalharam o povo de Israel (reino do norte) destruindo sua capital, Samaria, em 721 a.C. Depois de 136 anos, o império da Assíria cai e surge a Babilônia, e todo território assírio passaram ao controle dos babilônios. Logo em seguida, a Babilônia começou a atacar Judá (reino do sul), levando seu povo cativo, em três etapas:

·         606 a.C. – Daniel foi entre os jovens nobres levados à terra dos babilônios;

·         597 a.C. – Ezequiel foi levado com este grupo;

·         586 a.C. – Neste ano, a cidade de Jerusalém foi destruída junto com o templo, muitos dos judeus foram mortos e outros foram levados ao cativeiro da Babilônia. Alguns dos pobres foram deixados na terra, e ao profeta Jeremias foi dado à escolha de ir para a Babilônia ou ficar em Jerusalém. Ele optou por ficar com os pobres em Jerusalém.

A Babilônia, por sua vez, e destruída pelos medos-persas, conduzidos por Ciro, em 539 a.C. Eles adotaram uma política diferente dos seus antecessores, permitindo que os povos dominados voltassem às suas terras. Especificamente, os judeus receberam autorização e apoio dos medos-persas para voltar para Jerusalém. O livro de Esdras começa com este fato importante.

Os livros de Esdras e Neemias, mostram a fidelidade de Deus em cumprir Sua promessa feita a Jeremias muito tempo atrás (Ed 1.1; Jr 29.10), contudo a restauração ocorreu apenas parcialmente, pois Israel não alcançou a posição de reino independente como era antes do exílio, permanecendo como província do Império Persa. No caso específico de Esdras, o enfoque do livro é o cumprimento do decreto de Ciro para a reconstrução do templo, e a restauração espiritual do povo ao tomar consciência do seu pecado em virtude da celebração de casamentos mistos.

 

 

REIS DA PÉRSIA

 

REINADO

 

EVENTOS PRINCIPAIS

 

CORRELAÇÃO COM A BÍBLIA

 

Ciro, o Grande

(Ciro II)

 

550 a 530 a.C

 

539 a.C - Queda da Babilônia

539 a.C - Decreto de libertação aos Judeus e permissão para reconstruir o templo

 

Cambises II

 

529 a 522 a.C

 

525 a.C - Conquista do Egito

529 a.C – As obras do templo são suspensas por 7 anos

Dario I

(Hystaspes)

522 a 486 a.C

Invasão Punitiva da Grécia

517 a.C - Templo Reconstruído

 

Xerxes ou Assuero

(Astiages)

 

486 a 465 a.C

 

Tentativa Fracassada de Conquistar a Grécia

História de Ester

474 a.C – Decreto de Hamã para matar os judeus

 

Artaxerxes I

(Longimano)

O que foi marido de Ester

 

464 a 424 a.C

 

Supressão de uma revolta apoiada pelos gregos no Egito

458 a.C - Esdras retorna para Jerusalém com mais 2000 pessoas.

445 a.C – Neemias vai para Jerusalém e começa a reconstruir os muros.

Dario II

(filho de Oxos)

423 a 404 a.C

-

-

 

Artaxerxes II

(Mnemon)

 

404 a 358 a.C

 

Egito reconquista sua independência

415 a.C - Neemias escreve seu livro.

397 a.C – Começa o ministério profético de Malaquias

Artaxerxes III

(Ochos)

358 a 338 a.C

Egito reconquistado

-

Arses

338 a 336 a.C

-

-

Dario III

(Condomanos)

336 a 330 a.C

Império Persa conquistado por Alexandre, o Grande.

331 a.C – Morre Malaquias

  

Observação:

- Daniel, em 539 a.C, teve uma visão onde quatro reis reinariam na Pérsia, antes dela ser invadida e dominada por Alexandre Magno (Alexandre, o grande)rei da Macedônia e da Grécia (Dn 11:1-3).

Estes quatro reis devem ser entendidos como quatro dinastias, pois na antiguidade, pai, filho e neto, formavam um patriarcado.

São estas as quatro dinastias:

·         1ª Dinastia – Ciro II e Cambises II – 550 a 522 a.C

·         2ª Dinastia – Dario I a Artaxerxes I – 522 a 424 a.C

·         3ª Dinastia – Dario II a Artaxerxes III – 423 a 338 a.C

·         4ª Dinastia – Arses a Dario III – 338 a 330 a.C

- Os ”nomes” Dario, Artaxerxes, Cambises e Xerxes, na verdade não eram nomes, mas títulos como Faraó e Herodes[1].

 

4 – Os “Samaritanos”

Depois do reinado de Salomão, o povo de Israel se dividiu em duas nações: Israel e Judá (1 Rs 12:20). Em Judá o povo continuou a adorar a Deus no templo em Jerusalém, mas em Israel o povo adotou uma mistura de paganismo com a adoração a Deus, cuja capital era Samaria.

Depois de muito tempo de idolatria, o reino de Israel foi conquistado pelo rei da Assíria e muitos israelitas foram obrigados a conviver com pessoas de outras nações colocadas em Samaria pelo imperador assírio (2 Rs 17:23-24). Os novos habitantes de Samaria aprenderam sobre Deus, mas misturaram o judaísmo com a adoração de seus deuses. Os judeus que restaram em Samaria se casaram com esses novos habitantes surgindo assim os que ficaram conhecidos como os “Samaritanos”.

Os samaritanos modificaram a Lei de Moisés e acreditavam que o local correto de adoração a Deus era no monte Gerizim, em Samaria, e não no templo de Jerusalém. Daí surgiu o motivo da rivalidade e desprezo por parte dos judeus.

No tempo de Jesus vemos, pelos escritos dos evangelistas, que os judeus nem mesmo consideravam os samaritanos como israelitas autênticos, mesmo tendo eles os mesmos ancestrais.

No entanto, na segunda metade século XIX, quando os samaritanos não ultrapassavam 120 pessoas, passando para 146 em 1917, e depois da instalação do Mandato Britânico na Palestina (1922), as relações dos samaritanos com os sionistas (movimento político que defende o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado nacional judaico independente e soberano no território onde historicamente existiu o antigo Reino de Israel) foram cordiais, pois se interessam pouco pelas disputas religiosas e passaram a reconhecê-los sem dificuldades como judeus.

Hoje a população samaritana é estimada em cerca de 670 pessoas (2005), que vivem no monte Gerizim e em Holon, comunidade essa criada pelo segundo presidente de IsraelYitzhak Ben-Zvi, em 1954, e aceitam apenas o pentateuco como sagrado, todo restante foi excluído da sua fé.




5 - O que eram o Urim e o Tumim 

Na visão judaica, o Urim e Tumim estão relacionados às funções do Sumo Sacerdote de Israel. Seria a placa peitoral usada pelo sumo sacerdote, uma espécie de estola dobrada ao meio, em forma de bolso que guardava um pergaminho no qual estava escrito o nome de Deus. O nome de Deus ali gravado fazia com que determinadas letras gravadas sobre as pedras preciosas acendessem de acordo com as questões que o sumo sacerdote perguntava. A pessoa que buscasse uma resposta (questões relevantes na comunidade israelita) ia até ao sumo sacerdote e perguntava. O sumo sacerdote por sua vez virava-se para a arca da aliança, e a pessoa em pé atrás do Sumo-Sacerdote em voz baixa fazia a pergunta. Cabia ao sumo sacerdote, olhar a letra que se acendiam e recebia a inspiração de Deus para decifrar Sua resposta. Estes oráculos funcionaram até a destruição do Primeiro Templo.

Os cristãos passaram a entender o Urim e Tumim como duas pedras colocadas no peitoral do Sumo Sacerdote de Israel, contendo uma resposta positiva e em outra resposta negativa. Uma vez quer era feita a pergunta, jogavam-se as pedras, e se confirmava uma resposta negativa, positiva ou sem resultados nenhum. (Ed 2:61-63). Talvez tenha sido assim pós exilio babilônico, visto que algumas peças, tais como o peitoral sacerdotal, tenham se perdido no exílio devido ao seu grande valor.

 

6 - Conclusão

A grande lição que se pode tirar da leitura do livro de Esdras é que Deus é o grande condutor de toda a história, e que a Sua mão age em favor do Seu povo inibindo toda força contrária e estabelecendo a Sua vontade, ainda que tenha que usar reinos inimigos para fazer o que Lhe apraz e punir aqueles a quem ama. Afinal, disciplina e correção são necessárias para o ensino.

 



[1] Fonte de Pesquisa: Livro Fim dos tempos – o Encoberto Descoberto.

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