3º Livro do Pentateuco - Levíticos
Autor: Moisés
Data: 1461 a.C.
Local: Foi escrito no
deserto
Alvo: Povo de Israel
Palavra-Chave: Santidade
Eu
sou o Senhor que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus; por isso,
sejam santos, porque eu sou santo. (Lv 11: 45)
1 – Introdução
Os israelitas haviam
sido mantidos no Egito durante 215 anos (contando da
entrada de Jacó com seus filhos (Gn 47:9) até
a saída do povo com Moisés (Ex
12:1-51). É importante observar que o tempo
que Moisés (Gn
15:13) e Paulo (Gl
3:15-18) falam em seus
textos, é contato a partir da promessa de Deus a Abraão até o pacto Dele com
Israel no Sinai quando se cumpriria, e não o tempo total de Israel no
Egito).
O conceito de quem era Deus,
estava distorcido pelos egípcios que eram pagãos, esotéricos e politeístas.
O objetivo de Levítico era
fornecer instruções e leis para orientar ao povo que havia se distanciado do
Deus de seus antepassados (Abraão, Isaque e Jacó).
Para entendermos melhor esse
distanciamento dos hebreus para com Deus, é preciso entrar na sua história e
conhecer o contexto em que eles estavam inseridos.
2 – Contexto Histórico do Egito
De acordo com Antônio Gilberto: "O Egito
foi fundado por Mizraim, filho de Cão, logo após o dilúvio (Gn 10.6,13)",
irmão de Cuxe, pai de Ninrode, o fundador da Babilônia e de Nínive, o pai de
toda idolatria antiga. Daí, dá para entender o panteão de deuses daquela
civilização.
A cultura egípcia era cheia de artes que retratava
a sua vida cotidiana, suas crenças, e sua inteligência. Sobre isso nos diz
Charles R. Swindoll: "Pode-se dizer que eram a ‘classe nobre’ daquela
época. Na área educacional eles haviam chegado ao ponto máximo." Eles
tinham as melhores universidades, a mais alta economia e a cultura mais rica.
Vê-se isso até hoje em suas estruturas monumentais e desenhos.
As cidades egípcias eram grandes, possuíam
mercados, escolas, magníficos templos e construções ricamente ornamentadas,
estátuas e colunas colossais, oficiantes de charretes, artesãos, ourives,
fabricantes de vinho e cerveja, enfim, as mais diversas atividades.
Os egípcios eram avançados na medicina: tinham bons
ortopedistas, obstetras e até oftalmologistas. Conheciam muito bem o
corpo humano por causa da mumificação que faziam em seus mortos os nobres,
claro.
Eram religiosos, mexiam com ocultismo, misticismo e
magia.
No panteão dos deuses, os mais conhecidos eram
Ísis, Osíris, Hórus, Anúbis, Rá, Seth e Toth. Esses
deuses assumiam formas humanas, de animais e da natureza, como fogo, ar, terra
e água. Adorava-se o Nilo, o Falcão, o Sol e até o próprio Faraó. Enfim, a
religião egípcia era totalmente pagã e impura.
Quanto a sua política o Egito foi sempre uma
monarquia absoluta, cujo topo era ocupado pelo Faraó, que detinha o poder
político, religioso e militar. “Considerado deus, ostentava o título de filho
do Sol.”. “Assim, ele era visto como o principal deus do mundo.” A
dinastia dos faraós teve 140 ao todo.
Sobre a vida rotineira entre os
egípcios, havia uma grande liberdade, como se podia verificar em numerosos
escritos e na moda: as mulheres (exceto no caso da realeza, que se tapavam para
não apanhar sol), andavam, da mesma forma que os homens com tronco nu indo
dessa forma para o trabalho, exceto em alguns trabalhos em que iam
completamente nus. As relações não eram controladas, o incesto era costume na família
real e nem mesmo o adultério da mulher era punido, no pior caso, custava-lhes o divórcio
ou lapidação. O único tabu estava
em considerar a menstruação impura, ao ponto de dispensar os trabalhadores durante o
período em que a mulher estivesse menstruada. Com exceção de um faraó que se
converteu e que durante o seu reinado proibiu tais práticas, mas que durou
pouco, pois morreu cedo - Faraó Aquenáton (reinou
de 1352 a
1334 a.C.)
3 – Tema Central de Levíticos
O tema principal de Levítico é a
santidade.
A exigência de Deus a santidade
baseia-se na Sua própria natureza santa.
Para isso, Moisés tem um longo
trabalho a fazer: ensinar o povo as leis de Deus.
O livro de Levítico é o livro da
Lei, mas não é um livro de lei simplesmente. Ele é um grande manual de liturgia
para o povo hebreu.
Algumas pessoas se confundem e
afirmam que a Lei está toda em Levítico. Isto é um grande equívoco. Basta
analisarmos alguns textos para verificarmos que tais fatos são infundados. A
lei da circuncisão está em Gn 17.9-14.
A pena capital pela quebra do Shabbat (Sábado) está em Nm
15.32-36. O maior exemplo, porém, são os Dez Mandamentos
que se encontram em Ex 20.2-17 e
é repetido em Dt 5.6-21.
O nome Levíticos quer dizer
chamado por Deus em hebraico. Os levitas eram os descendentes de Levi, filho de
Jacó e Lia, que foram separados por Deus para o cuidado com trabalho religioso
(culto) da nação de Israel. Existe muita confusão em relação aos levitas e ao
sacerdócio. O sacerdócio foi incumbido a Arão e seus descendentes e não a todos
os levitas. A confusão se dá porque Arão é descendente de Levi, mas isto não
inclui os seus irmãos levitas na herança do sacerdócio.
4 – As Festas Anuais
Páscoa/Pães Asmos – Lembrar-se do sofrimento e da
libertação da escravidão no Egito. As duas festas estavam intimamente ligadas.
Primícias
– Ocorria nas festas
dos Pães Asmos e na Pentecoste, e consistia da oferta dos primeiros frutos da
colheita. Representava a benção o Senhor sobre a fartura da Terra Prometida.
Pentecoste – Também era conhecida como festa
das Semanas ou da Colheita. Na verdade, o nome Pentecoste só veio ser comumente
usado por volta de 300 a.C., devido ao domínio e influência do império Grego e
sua cultura. Pentecoste quer dizer “50 dias depois”, pois a festa ocorria 50
dias passados da Páscoa. Eram ao todo sete semanas de celebração, começando com
a colheita da cevada com o encerramento na colheita do trigo (Dt 34.22; Nm 28.26; Dt 16.10).
Tabernáculos – Ocorria no sétimo mês e duravam
sete dias, fazendo jus ao reconhecimento do número sete como o representante da
perfeição nas Escrituras. A festa tinha como objetivo lembrar os 40 anos de
peregrinação no deserto. O povo devia habitar sete dias em cabanas para que se lembrasse
de que o Senhor os fez habitar em cabanas no deserto (Lv
23.42-43). Por isso também era conhecida como a festa das Cabanas.
Trombetas – Comemorava o início do ano civil
dos hebreus. O toque de uma trombeta no 1º dia do mês tisri (7º mês/setembro)
anunciava a festa. Provavelmente esta trombeta era feita de chifre de carneiro,
que era própria para as cerimônias solenes do antigo Israel.
Dia da Expiação – Era o dia mais solene do ano. O
povo devia cessar o seu trabalho e “afligir a sua alma” (Lv. 23.27). Neste dia (10º dia do mês de tisri/setembro) o
Sumo Sacerdote entrava no Lugar Santíssimo do Tabernáculo, a fim de fazer a
expiação do pecado de todo o povo. Este era o único dia permitido por Deus para
que alguém, e neste caso somente o Sumo Sacerdote, entrasse no lugar mais
sagrado do Tabernáculo.
5 - Os Sábados Cerimoniais:
Existem dois tipos
específicos de sábados no Antigo Testamento, os sábados anuais e os sábados
semanais. Paulo não deixa dúvidas sobre qual está a falar.
Os dias de descanso
cerimoniais anuais, em conjunto com o festival de ciclo anual, não estavam
relacionados aos sábados do sétimo dia ou ao ciclo semanal. Cada um desses
outros sábados, ou dias de descanso, caíam numa data fixa do ano, e assim em
dias diferentes da semana em cada ano.
Assim, eram
propriamente chamados sábados anuais, em contraste com os sábados semanais. Os
dias em que o trabalho era proibido “além dos sábados do Senhor” (Levíticos 23:38) eram:
·
O
Primeiro Dia dos Pães Asmos – 15º dia do 1º mês (Lv.
23:6);
·
O
Sétimo Dia dos Pães Asmos – 21º dia do 1º mês (Lv. 23:
8,11);
·
Dia
de Pentecostes – 6º dia do 3º mês (Lv. 23: 24;25);
·
Festa
das Trombetas – 10º dia do 7º mês (Lv. 23: 16,21);
·
Dia
da Expiação – 10º dia do 7º mês (Lv. 23: 29-31);
·
Primeiro
Dia da Festa do Tabernáculos – 15º dia do 7º mês (Lv.
23: 34;35);
·
Sétimo
Dia da Festa dos Tabernáculos – 22º dia do 7º mês (Lv.
23: 36).
6 – O Grande Legado de Levíticos para o Novo Testamento:
Este livro que
apresenta o manual dos regulamentos do serviço sacerdotal está ligado
diretamente aos livros de Êxodo e Números, pela sequência histórica que eles
possuem, ou seja, os fatos que envolvem esses três livros se deram no mesmo
período e contexto.
A importância de um
regulamento para o serviço sacerdotal se dá em função da importância do Tabernáculo
e do culto a Deus, para evitar que tivessem elementos pagãos em sua liturgia.
O Novo Testamento nos
chama de "nação santa e sacerdócio real" (1
Pe 2:9). Portanto, veremos o que há no livro de Levítico que o relaciona
aos demais livros da Bíblia tem a ver com a nossa atividade religiosa e
espiritual.
O legado de Levítico é
o surgimento da figura do sacerdote que está bem registrada em Hb 5:1.
“O sacerdote era constituído
nas coisas concernentes a Deus a favor dos homens, para que oferecesse dons e
sacrifícios pelos pecados”.
6.1 - Qual a Relação entre o Sacerdote Levítico e o restante da Bíblia?
O sacerdote torna-se,
ao longo da Bíblia, uma figura do próprio Cristo (Hb,
8: 1)
Torna-se, também a figura
do pastor. Pois em síntese, era o intermediário entre os homens e Deus. Era ele
quem se apresentava perante Deus pelo povo e trazia Dele a Sua bênção.
Na Nova Aliança, a
igreja de Cristo também tem essa pessoa, que cuida, que orienta, que intercede
e essa pessoa é um "sacerdote" na casa do Senhor (Ap, 1: 6 e Hb, 13: 17)
O sacerdote também figura
o cristão, pois cada cristão é chamado na Bíblia de sacerdote de Deus, no
sentido de que tem que apresentar a Deus seu sacrifício particular de culto e
de adoração (1 Pe, 2: 9)
E ao longo das
Escrituras, também possui a figura de um patriarca. Todo patriarca precisa
exercer certo pastoreio sacerdotal perante sua família (1
Tm, 3: 2 -5), como o cabeça do lar.
É fundamental, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma
só esposa, equilibrado, tenha domínio próprio, seja respeitável, hospitaleiro,
capacitado para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável,
pacífico e não amante do dinheiro. O bispo deve também governar bem sua própria
família, sabendo educar seus filhos a lhe serem submissos com todo o respeito. Porquanto,
se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da Igreja
de Deus?
O texto bíblico acima
mostra que antes de ser sacerdote na igreja, o obreiro precisa ser
primeiramente sacerdote no lar. Como nesta dispensação, o sacerdócio tem
caráter universal, ou seja, todos exercemos um papel sacerdotal no corpo de
Cristo, fica implícito que é dever de todo pai ser um sacerdote em seu lar.
Há pelo menos dois
exemplos Bíblicos de pais sacerdotes dentro do lar. O primeiro exemplo é o de
Josué, quando declarou perante a nação de Israel que pretendia continuar
servindo a Deus com o seu lar (Js 24: 15), e o
segundo exemplo é de Jó (Jó 1: 5).
Portanto, o grande
legado do livro de Levítico é a instituição do sacerdócio e a regulamentação de
sua atividade, tanto na vida privada quanto no exercício do seu ministério. Sem
este livro, não entenderíamos o ministério de Cristo ao lado do Pai, não
compreenderíamos a importância do pastor perante a igreja, não entenderíamos o
dever espiritual do pai perante sua família e do cristão na ministração do seu
culto a Deus.
7 – Conclusão
Grande parte das
práticas ritualísticas de adoração retrata de muitas maneiras a pessoa e a obra
do nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Hebreus 10 nos
diz que a Lei Mosaica é “a sombra dos bens vindouros”,
pelo qual se entende que os sacrifícios diários oferecidos pelos sacerdotes
como substituição pelo pecado do povo eram uma representação do sacrifício
final - Jesus Cristo, cujo sacrifício seria oferecido de uma vez por todas a
favor daqueles que Nele cressem.
A santidade concedida
temporariamente pela Lei seria um dia substituída pela obtenção permanente
dessa santidade, quando os Cristãos trocariam o seu pecado pela justiça de
Cristo (2 Co 5:21).
“Aqui, temos o propósito da lei e o propósito da fé: a primeira nos
conduz a Cristo; a segunda nos justifica”.
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