1 º Livro Histórico - Josué

Autor: Anônimo (a tradição judaica atribui a Josué com intervenção de outros colaboradores)

Data: Período entre 1423 a 1372 a.C.

Local: Canaã

Palavra-Chave: Conquista

 

“Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Js 24:14-15)

 

1 – Introdução

 

O livro de Josué retoma a narrativa de Deuteronômio, quando Moisés, impedido de entrar na Terra da Promessa (Dt. 32:48-52), é substituído por Josué como líder do povo de Israel (Dt. 31:23).

Josué é um personagem importante na história da nação israelita, pois é lembrado como auxiliar de Moisés (Dt. 31:11), um dos doze espias (Nm. 14) e como general de sucesso (Ex. 17). Mas apesar do livro ter o seu nome, devemos nos atentar que o livro trata sobre Deus e suas obras e não sobre Josué.

 

2 – Biografia de Josué

 

Josué talvez tenha sido o descendente mais ilustre de José. Era da tribo especialmente abençoada por Jacó - Efraim (Gn 48:19). Do mesmo modo que José foi o "salvador" dos seus irmãos no Egito, Josué conduziu o povo para o livramento e descanso em Canaã.

Josué tinha 21 anos de idade quando foi espiar a terra juntamente com Calebe que tinha quarenta anos (Js 14:7), é plausível que Josué tenha começado a comandar a Israel com a idade de cinquenta e nove anos. Visto ter morrido com 110, a sua liderança durou cerca de 50 anos (Js 24:29). Levando em conta que a conquista inicial durou sete anos (Js 14:7, 10), se subtrairmos 38 anos dessa conta.

A tradição judaica, no Talmude, atribui a Josué a autoria literária do livro. Duas vezes o livro menciona o ato de escrever a Josué (18:9; 24:26). As evidências internas do livro indicam enfaticamente que o seu autor foi testemunha ocular da conquista (“dar-nos” em 5:6; e a prostituta Raabe ainda era viva quando escreveu 6:25). As partes do livro acrescentadas depois da morte de Josué – Js, 15:13-17 (Jz, 1:9-12); 24:29-33 – foram talvez escritas por um dos anciãos que ainda viveram muito depois de Josué (24:31). Josué morreu em 1372 a.C, aos 110 anos de idade (Js, 24:29).

É importante salientar que alguns atos dos juízes contados no livro de Juízes, estão entrelaçados ao livro de Josué. Pois foi Moisés quem havia instituído os juízes para ajuda-lo a governar o povo e essa prática foi continuada por todo Antigo Testamento (Ex 18, 13-26; Os 7:7; Sf 3:3)

 

3 - Contexto Histórico de Canaã

 

Geograficamente, a terra de "Canaã" compunha-se de toda a faixa ocidental desde Sidom, ao norte, até Gaza e Sodoma, no sul (Gn 10:19). O nome "Canaã" denominava, em geral, toda a área em que se estabeleceram os filhos de Canaã, neto de Noé. Foi, mais tarde chamada de "Palestina" pelos romanos, mas os nativos, na época de Josué, eram chamados de "Filisteus".

Politicamente, Canaã tinha sido dominada desde 1468 a.C. pelo Egito, que estabeleceu postos militares e cidades reais por toda a terra, bem como príncipes nativos, educados no Egito, para governar como monarcas marionetes. Em 1400, entretanto, o poder estrangeiro egípcio se deteriorou, tornando a terra propícia à invasão. Mas as cidades de Canaã estavam bem fortificadas.

 Religiosa e moralmente, a terra vivia infestada de idolatria, completamente degradada. Visto que toda aquela área era habitada por povos envolvidos com idolatria, paganismo e ocultismo. Alguns deles eram:

·         El era o deus supremo. Poemas ugaríticos descrevem-no como tirano cruel e sanguinário, de sensualidade incontrolável.

·         Baal era filho de El e o seu sucessor. Dominava o grupo cananeu e era considerado o "Senhor do céu". Era o deus da chuva e da vegetação.

·         Anate era irmã de Baal e uma das três deusas protetoras do sexo e da guerra. Era cultuada com a prostituição sagrada onde também havia muita morte infantil através de ofertas de sacrifício.

·         Asterote (Astarte) e Aserá eram esposas de Baal e também deusas do sexo e da guerra.

·         Moloque e Milcom, de origem amonita, eram deuses da orgia, do mesmo modo que Camos era a divindade nacional dos moabitas.

Esses deuses de violência e perversão sexual refletiam a crueldade e a corrupção do povo, que fez deuses parecidos com eles (Sl 115:8). A prática de seus costumes imorais era atribuída às suas deidades, como se eles dessem permissão para tais atos. Por isso, em suas histórias, os deuses praticavam tais imoralidades e recebia de bom grado tais ações.

 


4 – Rio Jordão

4.1 - Características do Rio Jordão:

 

Jordão significa aquele que desce ou lugar onde se desce (bebedouro). Nome bem adaptado ao maior rio da Palestina, pois nasce acima do nível do Mar Mediterrâneo.

À sombra do monte Hermom, sempre coberto de neve, com seus 2.750 metros de altura, nasce o rio Jordão, na confluência de quatro torrentes que descem das montanhas do Líbano, provocadas pelo degelo da neve no calor. Esta água escorre pela superfície ou pelas entranhas do monte formando as nascentes do rio.

O rio Jordão é um acidente geográfico situado na Palestina. Quem vem do deserto obrigatoriamente terá que atravessá-lo para chegar a Canaã. Este rio liga o Mar da Galiléia ao Mar Morto. Muitos Profetas, Reis, Faraós, Sacerdotes, povos, exércitos o atravessaram. Nele Jesus foi batizado, Naamã foi curado de lepra, Josué, Elias e Eliseu o atravessaram sem molhar os pés.


 

4.2 – Uma Nova Travessia nas Águas

O Rio Jordão era a barreira entre a região do deserto em que Israel perambulou por 40 anos e a terra prometida.

Nesse ponto, todos os adultos que vieram através do Mar Vermelho estavam mortos, isso incluía Moisés e Arão. As únicas exceções eram Josué, Calebe, Os jovens que tinham menos de 20 anos na época e a tribo de Levi.

Imediatamente depois de 30 dias de lamentação pela morte de Moisés, Deus mandou Josué preparar Israel para a travessia do Jordão (Js 3: 16-17)

Os sacerdotes colocam a arca do concerto nos ombros e começam a andar em direção ao Jordão. Deus manda Josué ordenar aos sacerdotes que parem na beira do Rio. A novecentos metros dali estava o povo acompanhando e observando o que iria acontecer. Quando Israel chegou ao Jordão, o rio estava cheio (Js 3:15).

O rio Jordão, dependendo do lugar, é apenas um rio estreito e, cruzá-lo, normalmente não apresentaria um grande problema, apesar de estarem com crianças, anciãos, animais, barradas e utensílios, já fosse uma grande dificuldade. Só que eles o atravessaram em um momento de enchente, quando estava transbordando e com fortes correntezas. Algo comum para época devido o degelo das neves do monte Hermon.

Desta maneira, para mover dois milhões de pessoas através deste rio, incluindo mulheres, crianças e seus rebanhos, iria requerer um milagre como aquele da separação do Mar Vermelho, e isso aconteceu com o propósito de impressionar a nova geração (que talvez não acreditasse nas notícias da travessia do Mar). Porém, outros objetivos diversos foram atingidos:

·         Confirmou a liderança de Josué, estabelecida por Deus (Js 3:7);

·         Foi uma confirmação do Senhor de que era Ele quem desalojaria os cananeus e dava a terra a Israel (Js 3:10);

·         Demonstrou o poder da arca, que continha as tábuas da Lei de Deus, pois à medida que ela liderava a multidão para dentro das águas, estas eram paralisadas. Devemos lembrar que a "arca da aliança" simbolizava a presença de Deus, isto é, Deus se fazia presente através da "arca".

Outra coisa que precisamos deixar bem claro é que a geografia do lugar e do rio daquela época em nada pode ser parecida com a de hoje. Aquela área sofre diversas erosões, terremotos, alterações climáticas e destruição por guerra. Então pegar um vídeo, foto ou mapa do Jordão atual não demonstra em nada o que foi naquela época.

5 - Análise Moral do Livro

 

O livro de Josué salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo escolhido por Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a sua terra e riquezas? Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros, como Números e 1 e 2 Samuel, onde Israel impõe armas contra os pagãos em vez uma comissão de paz. Diversas razões importantes devem ser observadas a partir do cenário histórico:

·         Devido à degradante religião de Canaã – A religião de Canaã tinha-se tornado tremendamente abominável aos olhos de Deus e da própria moralidade, e era uma espécie de juízo de Deus sobre esses povos que havia chegado o tempo (Gn 15:16; Ex 34:6-7; 1 Ts 2:16)

·         Devido à sua cultura corrompida – A adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletia uma sociedade permeada da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas revelam que seus templos eram centros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares tinha se tornado ritual comum.

·         Devido às admoestações e paciência de Deus – O texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã e podia dá-la ou negar a quem quisesse por razões nem sempre evidentes aos homens. O Seu plano de cessão e período de experiência é observado diversas vezes muito antes de Moisés e Josué:

1.    Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os cananeus pela sua obscenidade (Gn 9:22-27).

2.    Para Abraão e seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã (Gn 15:13-16).

3.    Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua destruição, o Senhor deu aos cananeus muitas oportunidades de arrependimento (Gn 18:25; Rm 1:18-22). Deus esperou 400 anos (contando da promessa a Abraão até a posse do povo de Israel)

·         Devido à comissão divina de Israel – Israel não foi designado para ser apenas uma organização religiosa, mas um governo civil com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira comissão era executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com a aliança de Noé (Gn 9:6).

·         Devido às promessas da Aliança feitas por Deus – Conforme o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina por Israel estender-se-á desde o Egito até o Eufrates (Gn 15:8; Dt 1:7-8; 30:5). Antes daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor novamente limpará a terra da vil idolatria e brutalidade introduzida por um sistema religioso inspirado por Satanás (Ap 14:16). Tal promessa ainda está em curso, não se cumpriu.

6 - Simbolismo do Jordão e Canaã

Em alguns de nossos hinos, o rio Jordão é considerado símbolo da morte (corpo), e a terra de Canaã, do céu. Mas esta é uma interpretação perigosa, que podem levar a uma má interpretação da vida cristã e do Reino eterno. Se o Jordão é a morte e Canaã o céu, segue-se então que toda a vida cristã, até a hora da morte, corresponde ao deserto em que os hebreus peregrinaram – um quadro bem pouco invejável – e poderíamos sentir certa simpatia pela ideia de que uma conversão no leito da morte é preferível, a fim de diminuir ao máximo o andar errante no deserto.

Além disso, Canaã não pode ser realmente um tipo do céu por outras duas ou três razões:

1.    Canaã foi conquistada através de conflito. Houve poucas lutas durante os anos da peregrinação, mas no momento da entrada em Canaã, Israel precisou puxar a espada. Os inimigos tinham de ser destruídos. Israel não podia fugir da luta. Como Canaã pode tipificar então o descanso tranquilo da herança no céu?

2.    Israel também podia ser expulso de Canaã por inimigos poderosos, o que finalmente aconteceu, como mostrado posteriormente nos livros à frente. Como isso pode ser um tipo do céu de felicidade ininterrupta prometido aos justificados em Cristo?

3.    O Jordão não tipifica a morte do corpo e a partida para o além, mas aquela união mais profunda de nossos corações com Cristo na Sua morte, onde somos completamente separados para Ele e introduzidos "na plenitude de benção do evangelho de Cristo". Canaã é aquela "largura, comprimento, altura e profundidade" da vida espiritual em que realmente "possuímos nossos bens" em Cristo. A tragédia é que a maioria dos cristãos vive muito abaixo dos seus privilégios e direitos de redenção em Cristo. Deus abriu para nós em Cristo uma experiência de santificação comparável a uma Canaã fértil, fragrante, produtiva, banhada de sol – uma "terra de trigo e cevada, de vides", uma terra que emana leite e mel. A nossa Canaã é aqui. Simboliza a nossa vida produtiva em Deus, apesar dos percalços.

7 – A Relação entre Josué e Efésios

No livro de Josué, vemos Israel entrando e possuindo a herança terrena concedida mediante Abraão. Em Efésios, vemos a igreja entrando e possuindo a herança celestial concedida em Cristo.

A correspondência, no entanto, não é apenas geral. Existe um paralelo em cinco partes, marcado pelas cinco ocorrências da expressão "lugares (ou regiões) celestiais", em Efésios, a saber: (Ef 1:3; 1:20; 2:6; 3:10; 6:12). Traçando então brevemente o paralelo entre a terra de Canaã em Josué e os "lugares celestiais" em Efésios.

7.1 - Ambos eram a herança predestinada de um povo escolhido.

 

Muito tempo antes, 500 anos antes de Josué fazer o povo atravessar o Jordão, Deus dissera a Abraão: "Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu te darei, a ti e à tua descendência, para sempre" (Gn 13:14, 15). Depois de finalmente ter tirado Israel do Egito, Ele disse: "Quando o Senhor te houver introduzido na terra... a qual jurou a teus pais te dar" (Êx 13:5). Do mesmo modo, examinando a primeira ocorrência da frase "lugares celestiais" em Efésios, descobrimos que nela se encontra a herança predestinada da igreja, "em Cristo".

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu Nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele" (Ef 1:3, 4).

Israel foi abençoado com todas as bênçãos materiais nos lugares terrenos em Abraão. A Igreja é abençoada "com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo". Note igualmente que, para gozar desta plenitude de bênçãos materiais, Israel deve estar na terra prometida. Do mesmo modo, para o cristão tirar proveito da plenitude das bênçãos espirituais em Cristo, deve estar nas regiões celestiais. A razão de não as termos é que não nos achamos no lugar em que Deus as concede (Gl 5:25; Cl 3:1-3; Ef 2:6).

 

7.2 - Ambos começaram com um líder designado por Deus.

 

No caso de Israel, tudo foi colocado nas mãos de Josué. Ele recebeu esta ordem: "... tu farás a este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais" (Js 1:6) e "tu os farás herdá-la" (Dt 31:7). Josué era, portanto, o administrador nomeado para a colônia israelita em Canaã, e ficamos sabendo que, no final dos sete anos de guerra, "tomou Josué toda esta terra... e a deu em herança aos filhos de Israel, conforme as suas divisões e tribos" (Js 11:23).

"... para saberdes... qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual o exerceu em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais... e, para ser O cabeça sobre todas as coisas, o deu à IGREJA" (Ef 1:18-22).

O Salvador ressurreto é quem divide a herança e a distribui ao Seu povo enquanto este se firma nas promessas, mediante a fé (Ef 4:10, 11).

7.3 - Ambos eram dons da graça a serem recebidos pela fé.

Canaã foi dada a Israel em Abraão e não em Moisés, o legislador. Israel jamais teria recebido Canaã através da lei. Moisés não teve sequer o privilégio de introduzir o povo na terra. A lei também jamais poderá nos levar ao descanso prometido por Deus, para que repousemos em Cristo (Rm 4:1-13; Gl 3:6-19).

"... e estando nós mortos em nossos delitos, (deus) nos deu vida juntamente com cristo, - pela graça sois salvos; e juntamente com ele nos ressuscitou e nos assentar nos lugares celestiais em cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em cristo Jesus. porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de deus" (Ef 2:5-8).  

Não iremos entrar nessa terra de bênçãos por meio de votos, resoluções, alianças de consagração assinadas com sangue novo extraído das veias (tal prática demonstra falta de fé no sacrifício de Cristo, e anula a obra vicária de Cristo); nem mediante ritos externos ou abstinência ascética de coisas boas e saudáveis; também não adianta dias de jejum e noites de oração; nem sequer a obediência à voz da consciência ou uma percepção interior, embora seja de máxima importância dar atenção a isso. Nada disso nos fará entrar na terra de bem-aventuranças. Todas essas coisas se tornam formas de legalismo quando praticadas com o propósito de obter o completo descanso e a vitória da experiência cristã. Nas palavras de Efésios 2:8, é preciso que seja pela "graça, mediante a fé".

7.4 - Ambos são cenários de uma revelação divina surpreendente.

O fato de Israel entrar e possuir Canaã tinha o intuito de ser uma revelação do Deus verdadeiro para as nações da época: "Para que todos os povos da terra conheçam que a mão do Senhor é forte: a fim de que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias" (Js 4:24).

"Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel". (Êx 19:6).

No mesmo plano encontramos a quarta referência em Efésios aos "lugares celestiais", nos contando que a Igreja é uma belíssima revelação de Deus aos poderes do reino espiritual.

"A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de cristo, e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais" (Ef 3:8-10).

7.5 - Ambos são descritos como cenário de conflito.

Na Canaã terrena havia os gigantes filhos de Anaque e cidades "muradas até os céus". Os heteus, girgaseus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus e jebuseus protegiam a terra com fortalezas e carros de ferro – sete nações maiores e mais poderosas do que Israel. Eram nações extremamente perversas que tinham de ser conquistadas e destruídas.

O mesmo acontece com a nossa Canaã espiritual nos "lugares Celestiais". Voltamos a Efésios e encontramos estas palavras na última ocorrência da frase "nos lugares celestiais":

"... a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Ef 6:12).

8 - As cidades de Refúgio (cap. 20)

 


Temos aqui as seis cidades de refúgio. Seu propósito é claramente explicado em Nm 35 e neste presente capítulo. Tratava-se de uma provisão misericordiosa, a fim de proteger os que haviam cometido certos erros sem querer ou por engano. Muitos homens fiéis e sinceros teriam perecido se não fossem os chifres dos altares nessas cidades de refúgio.

Aprendemos assim que Deus reconhece a diferença entre pecado e erro. Os homens mais santos são falíveis e podem cometer erros; mas erros não são pecados e não nos desclassificam para a vida de fé nem nos privam de nossa herança em Cristo. A menininha que, carinhosa, mas desastrosamente, colocou os sapatos da mãe no forno, a fim de aquecê-los numa noite fria, cometeu um erro, mas não um pecado, fazendo uma analogia.

As cidades de refúgio representavam, em linguagem jurídica, um "habeas corpus" a favor do criminoso não culpado, ou cujo crime não tivesse sido apurado adequadamente. Em caso de homicídio, pela lei, caberia ao parente mais próximo do falecido a responsabilidade de aplicar a "Lei de Talião" (também dita pena de talião, consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena — apropriadamente chamada retaliação. Esta lei é frequentemente expressa pela máxima olho por olho, dente por dente, regra de lei mais antiga que existe, depois dela vem o Código de Hamurabi, o que regia o Egito na época). Ao homicida, e isto poderia ser feito a qualquer hora e em qualquer lugar, exceto na cidade de refúgio, onde o homicida que não matara intencionalmente poderia aguardar seu julgamento em segurança. (Nm 35:11,12)

O refugiado não poderia sair da cidade. Se o fizesse, correria por sua conta e risco o que acontecesse, pois o vingador o apanharia, e não haveria apelo para ele. A cidade de refúgio protegia tanto aos filhos de Israel quanto ao estrangeiro (Nm 35:15) e representava para o homicida perseguido e fugitivo, segurança e descanso ao mesmo tempo, tornando-se assim, um tipo de Jesus o Messias, que recebe todos quantos tiverem acesso a Ele (Jo 6:37) uma figura expressiva de Jesus Cristo Nosso Salvador. Somente estando em Jesus Cristo, o refúgio de Deus, o pecador estará para sempre livre da sentença mortífera do pecado. (Jo 5:24)

As cidades de refúgio eram bem fortificadas e muradas, com portas nas extremidades, que podiam ser fechadas para impedir a chegada do vingador.

De acordo com Números 18.20-24 os levitas não herdariam qualquer parte da Terra Prometida, pois, Deus mesmo era a sua herança. Até o sustento dos filhos de Levi provinha dos dízimos de todo o Israel, uma vez que se ocupavam apenas do sacerdócio.

Os levitas receberam, por ordem divina, apenas 48 cidades dentre as tribos dos filhos de Israel (Nm 35.2-5,7). Dentre elas, seis foram separadas como "cidades de refúgio" para abrigar o homicida involuntário (Nm 35.6,14; Dt 4.41-43). Três ficavam ao leste do Jordão (Bezer, Ramote, Golã), e três ao oeste (Hebrom, Siquém, Quedes). Esses locais eram considerados sagrados, e administrados pelos sacerdotes. Qualquer israelita ou estrangeiro que cometesse um assassinato não proposital poderia abrigar-se ali até o seu julgamento (Nm 34.15,22-25). O acusado deveria, obrigatoriamente, permanecer na cidade até a morte do sumo sacerdote (v.28).

Aqui temos uma lição espiritual muito preciosa. Deus elegeu a Jesus Cristo como o sumo sacerdote que remove a culpa e livra o pecador de seus pecados (Hb 7.20-27).

9 - A Distribuição da Terra - Rubem, Gade e Manassés (Números 32 e 33:50 a 56 

Duas tribos, Rubem e Gade, pediram que Moisés lhes desse a terra que o povo de Israel agora ocupava ao oriente do rio Jordão, porque tinha boa pastagem para os seus animais, dos quais tinham grandes rebanhos.

Moisés se perturbou com o pedido deles, pois se lembrava de ainda vividamente do desânimo do povo ao ouvir o relatório dos espias quarenta anos antes, e de suas terríveis consequências Esta era uma nova geração e, para tirar qualquer dúvida sobre o que havia ocorrido, ele repete a narração do evento. Estas duas tribos juntas tinham 84.230 guerreiros, ou seja, 14% do total de 601.730 de Israel. Se ficassem para trás, o resto se sentiria enfraquecido demais e poderia desistir de ir para a conquista da terra. Era o que o experiente Moisés calculava.

Felizmente, essas tribos concordaram em mandar seus homens junto com o resto de Israel para conquistar a terra; primeiro eles estabeleceriam currais para o gado e cidades fortes para suas famílias, depois seus homens iriam com o exército de Israel, só voltando depois que toda a terra de Canaã fosse tomada. Eles renunciavam a qualquer participação na distribuição da terra que seria conquistada.

Isto satisfez a Moisés e ele prometeu que, se cumprissem fielmente o que haviam proposto, eles estariam desobrigados perante o SENHOR e Israel, e teriam a posse da terra perante o SENHOR.

Moisés juntou a essas tribos a metade da tribo de Manassés (o resto da tribo de recebeu herança em Canaã - Js 22:7). Essas duas tribos e meia, não tiveram parte na terra de Canaã, apesar de contribuírem para que as outras conquistassem a terra.

Os gaditas e rubenitas ficaram aquém do Jordão, tentados pela concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e a soberba da vida.

Há muitas pessoas que, à semelhança dessas duas tribos e meia, querem se sentir seguras de que têm comunhão com o Deus de Israel, mas se contentam em viver fora da terra.

Não há dúvida de que o motivo da edificação do altar "Ede" (Almeida Revista e Corrigida) era bom; mas seria desnecessário se fosse obedecida a ordem do Senhor para que todos os homens de Israel se apresentassem diante dEle três vezes ao ano em Silo.

A verdadeira unidade não é exterior, mas interior. Ela não é obtida, nem sequer preservada por memoriais externos, consistindo, porém de uma unidade da experiência interior e espiritual. Não devemos confundir unidade com mera uniformidade.

A única unidade verdadeira é a de uma vida comum interior, uma experiência espiritual comum e uma lealdade comum de coração.

10- Conclusão: A Distribuição da Terra

 Quanto à distribuição feita temos alguns pontos a ressaltar:

1.    Das 12 tribos de Israel, apenas 9 ½ tribos receberam terras em Canaã, já que Rubem, Gade e metade da tribo de Manassés optaram ficar em Gileade, antes do Jordão, o que lhes tinha sido concedido por Moisés; 

2.    A terra foi repartida por meio de sorteio, conforme ordem do Senhor (Nm, 26:55 e Js, 13:6);

3.     A tribo de Levi não recebeu herança, mas foi repartida em 48 cidades dentre as outras tribos (Dt, 10:9);

4.    Calebe recebeu sua herança em Hebrom (Js, 14:12).




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